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sexta-feira, 6 de julho de 2018

VIRTUDES - BUSCA FRENÉTICA


LEITURA

BUSCA FRENÉTICA

Um rapaz de camisa surrada e bermuda mexe na lixeira ao meu lado. A sensação é desalentadora. Ele segura um saco preto e, num primeiro instante, até achei que estava procurando comida. Mas, eram as latas o seu intento.
Ele caminha, ansioso. Talvez a urgência lhe consuma, como as minhas próprias.
Uma senhora sentada, embala uma criança, com esta mesma urgência. Parece impaciente, mesmo que a criança esteja quieta. Ela sacode os pés como se tivesse a síndrome das pernas nervosas. Sem sapatos, ela apoia os pés sobre a mala, vestindo meias brancas com detalhes azuis, naquele movimento impaciente.
Minutos depois, o rapaz de camisa surrada volta à lixeira e faz a mesma busca frenética. Há impaciência naquele revirar dentro do lixo. Há ansiedade. Há frustração.
Ele anda como zumbi. Não sabe pra onde vai e o que vai fazer.
A mulher olha tudo aquilo e pensa o mesmo que eu pensei no primeiro momento: ele tem fome. Chama o rapaz, que vem meio sorrateiramente, com aquele medo do porvir e aquela frustração interna e contínua.
Ela mexe na mala, onde estava com os pés. Tira dois sanduíches de pão de forma embalados em plástico filme. Dá a comida que tinha para o rapaz, com o sentimento de humanidade e o inerente espírito materno que preenche as mulheres, quando parecemos uma lacuna inacabável. Ele agradece muito rapidamente e sai, mexendo no saco preto e segurando os sanduíches, com um certo desapontamento.
No colo, a criança continua no embalo. Chove e o vento gelado me assusta vez por outra, a cada abertura da porta automática.
6h40.
A filha da mulher (e mãe da criança) aparece, com ar cansado. Pensei: "é a dona do outro lanche, que já não existe mais".
E a porta se abre e me gela por dentro. A névoa lá fora, por um momento, me dificulta a visão. Uma visão de mundo que se converte e se diverte, a cada novo olhar.




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