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quarta-feira, 4 de julho de 2018

LEITURA - SERÁ QUE ELA MORREU MESMO?


LEITURA
SERÁ QUE ELA MORREU MESMO?

Eu não tinha chorado até então. Parece que quando a gente não chora, as coisas estão bem, você está superando estas situações limítrofes e está acessando uma espécie de equilíbrio.
Mas é uma ilusão. Dura pouco...
Olho para a foto na mesa. O sorriso dela está ali, vivo e perene. "Será que ela morreu mesmo?", penso comigo. Aí eu retorno à realidade. "Sim, ela morreu".
Seu corpo não está mais aqui, embora eu a veja em muito do que sou, nas minhas lembranças, nos beijos e na maciez da sua pele branca, que eu acariciava sempre com todo o amor do mundo.
E aí o chão abre um buraco de novo. As lágrimas vão molhando tudo, empoçando no buraco aberto no chão, onde eu queria cair ou ficar nadando lá sem ter hora pra voltar.
Dói. Existe uma sensação de desalento, de desamparo, que machuca tanto que dói o corpo. Reverbera.
Abro o livro dela de orações. Cada dia, descubro uma. Algumas fui eu mesmo que copiei, com minha letra ali ao lado da dela. Ela tinha uma letra tão bonita! Era tão inteligente. Mil vezes mais do que eu...
Dá uma saudade sem tamanho. Vontade de abraçar, de perguntar coisas que ela já tinha me dito e eu esqueci. Tantas coisas que eu queria lembrar agora. Até uma besteira eu queria perguntar.
Dói, não porque ela se foi. Eu sabia que este dia ia chegar. Mas, enquanto ele não chega, a gente acha que mãe nunca morre.
E eu me sentia tão forte... e me vejo beirando o precipício todos os dias, tentando não escorregar nas minhas próprias lágrimas.
Às vezes eu soluço de tanto chorar. Parece que, por um momento, dói menos. Mas depois dói de novo tanto quanto antes.
Hoje eu acendo duas velas. Uma pra ela e uma pro meu pai.
Desde que meu pai morreu, minha mãe acendia uma vela para ele. Ela não queria que a alma dele ficasse no escuro, embora eu soubesse sempre que não estaria. Ele está em paz, eu sinto, eu sei.
Numa das últimas vezes que acendi a vela pro meu pai, lá com minha mãe do lado, ela me disse que ela vela demorava quatro horas para queimar.
E agora eu acendo uma para cada um. Eu sei que ambos estão na luz. Mas, agora importa fazer o que ela gostaria que eu fizesse quando ela já não estivesse mais aqui.
Saudade gigante.
Saudade devastadora.
Mas a luz acalenta.
Até chegar a vez de alguém acender vela para mim também.


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