VIRTUDES
Fornalha
Não queria julgá-las todas, como é
certa a vontade por dentro.
Não queria jogá-las ao
forno, para se queimarem por fora.
"Cada um tem seu
papel. Exerça-o", diz-me a amiga.
"Mas, não dá para ser
papel manteiga... frágil. Tem que ser Canson", respondo-lhe.
A vida se desfigura diante
dos olhos de quem não enxerga.
Mas, sejamos compassivos
com a falta de visão.
Restitua-se. Despudore-se de julgamentos.
Não finja não saber de nada.
Escute as vítimas da violência interna, que conturbam a própria existência
dentro de si.
Querem sair do buraco, mas
não têm esperança.
A descrença cresce a passos
largos. E vai minguando a fé, matando-a de fome. Fome de tudo que se perdeu.
Ah, um bando de ateu!
Não julgue de novo. Jogue tudo na fornalha.
Queime. Arda de compaixão.
Nem que seja por um segundo. Um precioso segundo diante de quem nem tempo mais
tem.
O tempo perdido. O tempo
que se exauriu com tantas coisas. Partiu. Talvez um peito. Um coração. Partiu.
Partiu-se. Quebrou-se. Despedaçou-se.
Junte os cacos. Restitua a
dignidade infame.
Não blasfeme diante de si. Da vida que era morte. Da morte que virou
vida. E isto é sucesso: o renascimento.
Profundezas ou superfícies.
Não fique nas imundícies.
Ressurja. Mesmo que seja sem asas. Mas voe.
E não arda mais. A não ser que seja no amor. No amor esquecido e
reencontrado.
No fogo do passado. No fogo
que arde agora. E pede para não sufocar.
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