VIRTUDES
Findou-se
a chuva
Senti o silêncio derradeiro da despedida, sem medida.
Talvez o outro "eu" tivesse me deixado sem que eu
tivesse notado.
Foi embora com o valor do tempo
perdido.
Lágrimas vertidas e convertidas em
uma tristeza nada alvissareira.
Talvez os céus tenham se compadecido
de mim e de lá de cima escorriam lágrimas de chuva. Bem mais do que as minhas,
é bem verdade. Bem mais do que toda uma vida em enxurrada.
Pelo espelho, a imagem não era
igual. Sentia-me diminuta presa numa caixa com grandes fantasmas. Aqueles
mesmos de sempre, conhecidos e intragáveis, como aquele cheiro de mofo.
Abri o guarda-chuva colorido no meio
da sala. Rodei-o por alguns instantes. Até que a chuva lá fora parou, como a
chuva no canto dos olhos. Recolheu-se. Findou-se.
E veio mesmo o arco-íris. Trazendo
aquele instante desejado, que quando chega, sempre surpreende.
Eu diante de mim.
Diante do arco-íris.
Diante do guarda-chuva colorido.
Inevitável não colorir-me.
De azul.
Roxo.
E amarelo.
Emoldurando um sorriso antigo.
Que era e sempre foi o meu melhor
amigo.
Em dias de chuva ou de sol.
Em dias. Em noites. Em mim.
Como uma tatuagem que não se apaga.
Como um tempo que não se quer
perder. Nem perecer.
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