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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

VIRTUDES - A “sabedoria virtual”

VIRTUDES


A “sabedoria virtual”

 

A boa educação nos apregoa que não é conveniente ouvir a conversa alheia. Mas em algumas ocasiões isto é inevitável. Uma porque a pessoa fala alto e não está nem aí se as outras estão ouvindo – há quem queira mesmo que escutem. Duas porque há quem já não tenha mesmo bons modos e nem a necessidade de recolher-se ao “mundo privado”. Aliás, quase tudo tem sido público. Basta ver a profusão de eventos da vida particular bombando nas redes sociais nas “fotinhas” mais perversas possíveis.
Diante disto, não pude me furtar de ouvir uma conversinha entre duas garotas em plena via pública. Deveriam ter, no máximo, 18 anos. Conversavam enquanto caminhavam, atrás de mim, na Avenida Paulista. Ao contrário do que se espera de uma conversa entre jovens garotas, não era nada animado o papinho delas. A interlocutora de voz mais estridente dominava a conversa e decidiu contar à amiga uma descoberta. “Estava querendo saber sobre depressão e coloquei lá no Google para pesquisar. Apareceram uns trinta sintomas da doença e, enquanto eu lia, fui me identificando com cada um. Começou a me dar um desespero. Falei para minha mãe que preciso urgentemente procurar um psicólogo. Eu tô doente!!”, sacramentou a menina, naquele tom meio desesperador. Antes que eu pudesse ouvir o que a amiga iria dizer, as duas se embrenharam numa galeria de produtos asiáticos. Talvez gastar ajudasse a aliviar a “depressão”.
Quem nunca recorreu à internet para elucidar dúvidas, para saber que remédio tomar em caso de dor de barriga ou a melhor cantada a fazer depois de tentativas frustradas? Ahamm!! Temos nos rendido à “sabedoria virtual” e temos nos tornado cada vez mais reféns dela.  Definimos. Diagnosticamos. Temos exagerado buscando soluções de todas as espécies. Achamos que temos nos adiantado em várias coisas, mas quando se trata de saúde, podemos criar ainda mais problemas. Peraí.... A internet tem virado o médico, o melhor amigo, aquele conselheiro das horas desesperadoras... E isto não é sadio, convenhamos. 
Os tempos não são mais os mesmos, é verdade. Há muita esquisitice por toda parte e o pior é que temos ficado cada vez mais patéticos, registrando os momentos mais ridículos com o celular, deixando de aproveitar o que acontece no tempo real e no tempo presente. O ideal seria que nos municiássemos de mais sabedoria humana do que convertêssemos a sapiência em uma mera ferramenta virtual que supõe-se a “adivinhação” de nossos males. O papel aceita tudo e a internet também. A gente é que não pode aceitar. Mais sabedoria, por favor!


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