VIRTUDES - A “sabedoria virtual”
VIRTUDES
A “sabedoria virtual”
A boa educação nos apregoa que não é conveniente ouvir a conversa alheia.
Mas em algumas ocasiões isto é inevitável. Uma porque a pessoa fala alto e não
está nem aí se as outras estão ouvindo – há quem queira mesmo que escutem. Duas
porque há quem já não tenha mesmo bons modos e nem a necessidade de recolher-se
ao “mundo privado”. Aliás, quase tudo tem sido público. Basta ver a profusão de
eventos da vida particular bombando nas redes sociais nas “fotinhas” mais
perversas possíveis.
Diante disto, não
pude me furtar de ouvir uma conversinha entre duas garotas em plena via
pública. Deveriam ter, no máximo, 18 anos. Conversavam enquanto caminhavam,
atrás de mim, na Avenida Paulista. Ao contrário do que se espera de uma
conversa entre jovens garotas, não era nada animado o papinho delas. A
interlocutora de voz mais estridente dominava a conversa e decidiu contar à
amiga uma descoberta. “Estava querendo saber sobre
depressão e coloquei lá no Google para pesquisar. Apareceram uns trinta
sintomas da doença e, enquanto eu lia, fui me identificando com cada um.
Começou a me dar um desespero. Falei para minha mãe que preciso urgentemente
procurar um psicólogo. Eu tô doente!!”,
sacramentou a menina, naquele tom meio desesperador. Antes que eu pudesse ouvir
o que a amiga iria dizer, as duas se embrenharam numa galeria de produtos
asiáticos. Talvez gastar ajudasse a aliviar a “depressão”.
Quem nunca recorreu
à internet para elucidar dúvidas, para saber que remédio tomar em caso de dor
de barriga ou a melhor cantada a fazer depois de tentativas frustradas? Ahamm!! Temos nos rendido à “sabedoria
virtual” e temos nos tornado cada vez mais reféns dela. Definimos.
Diagnosticamos. Temos exagerado buscando soluções de todas as espécies. Achamos
que temos nos adiantado em várias coisas, mas quando se trata de saúde, podemos
criar ainda mais problemas. Peraí.... A internet tem virado o médico, o
melhor amigo, aquele conselheiro das horas desesperadoras... E isto não é
sadio, convenhamos.
Os tempos não são
mais os mesmos, é verdade. Há muita esquisitice por toda parte e o pior é que
temos ficado cada vez mais patéticos, registrando os momentos mais ridículos
com o celular, deixando de aproveitar o que acontece no tempo real e no tempo
presente. O ideal seria que nos municiássemos de mais sabedoria humana do que
convertêssemos a sapiência em uma mera ferramenta virtual que supõe-se a
“adivinhação” de nossos males. O papel aceita tudo e a internet também. A gente
é que não pode aceitar. Mais sabedoria, por favor!
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