VIRTUDES
Espionagem
Desperto dos devaneios
matutinos, vespertinos e noturnos.
Cansei-me das mesmas
ilusões, como estas que os sonhos imprimem em quem acabou de acordar. Fagulhas
que nunca serão labaredas.
Espiono meus
sentimentos, meus pensamentos, os risos infames que surgem de onde não quero.
Espiono as dores. As
minhas e as alheias, com a imobilidade cáustica de quem se acostuma com elas.
E por espiar tanto,
vejo que a espionagem virou a lida mórbida e rotineira de uma resiliência até
então deplorável. Ela cansa. Porque calcula. É calculista.
Espiono mais uma vez.
Só para ter certeza de que ela ainda está aqui.
E por espiar tanto....
Expio. Expio um pouco de tudo.
E não há mais um pio.
Daquilo que era o costume. Mal acostumado.
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