VIRTUDES
COM
QUEM CONTAR?
Ter amigo é ter com quem contar (ou ao menos deveria
ser). Porém, não é sempre que podemos contar com as pessoas. Há gente que conta
conosco só como um mero numerozinho na rede social: um a mais num monte de
gente que não faz diferença. Há “contagens” injustas ou meramente oportunistas.
Todos querem ter com quem contar, mas cada vez mais
parece que o “ter a quem contar” se transformou em fofoca: ter a quem contar a
última escapulida do colega casado ou a promoção da puxa-saco favorecida pelo
chefe. Ter a quem contar que a grama do vizinho parece muito mais verde. Ter a
quem contar que passou a perna em alguém, que fez “gato” na TV a cabo,
carteirinha falsa de universitário, trafegou no acostamento para chegar mais
rápido, cortou fila na bilheteria do teatro, catou a namorada de outrem.
Ter a quem contar não parece mais aquela coisa
solidária e reconfortante que havia noutros tempos, como um ombro amigo, alguém
para escutar, mas sem comentários depreciativos ou maldosos. Era aquele
aconchego, o respaldo que se precisava numa decisão difícil, num momento
delicado ou num simples compartilhar de emoções: “Gostaria que você almoçasse
comigo porque tenho algo a compartilhar com você.” E a gente se sentia único,
importante, por receber um convite para ouvir boas notícias de uma pessoa que a
gente quer bem, algo que a gente sabe que não está sendo contado para “qualquer
um”.
As conversas do dia a dia, no entanto, têm se
transformado em um continuum de besteirol e do “cuidar da vida alheia”, com as
coisas mais perniciosas que o ser humano pode fazer só botando a língua para trabalhar-nos
mais tórridos enredos.
No refeitório, no cafezinho da tarde, atrás da porta do
chefe, pelo correio interno, pelo inbox do Face, pelo WhatsApp, pelo
corredor... pelos cotovelos! Há gente falando demais. Há gente falando e muito
mal dos outros. Em todo lugar, em todo momento. Não se dá o exemplo, nem
hierarquicamente, nem em setores que deveriam primar pela harmonia, em primeiro
lugar.
Há um costume mesquinho em fofocar. E, definitivamente,
está na hora de acabarmos com isto: “quando um não quer, dois não brigam”.
Portanto, se não quer ser o personagem principal de uma fofoca, não participe
também das dos outros. Evite os fofoqueiros. Evite estas más energias. Resolva
suas pendências com as pessoas e não faça delas uma alavanca para intrigas.
Tenha com quem contar, sim. Amigos fazem muito bem!
Tenha, também, a quem contar as coisas edificantes da sua vida e não as
desedificantes dos outros. Que assim seja!
Mônica Kikuti
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