VIRTUDES
Leitura
DESILUSÃO DO DESENCONTRO
Uma hora ou outra, aquele revés que se espera, mas não se acredita,
acontece. E daí tudo vira desilusão amorosa. Desilusão amorosa é um negócio
triste, ruim, cavernoso. Mas, posso dizer, tem algo ainda pior: a desilusão do
desencontro. É aí que a gente desenrola um tapete cheio de sentenças,
empoeirado pelos desejos que vêm sendo a tônica de uma vida inteira. O problema
é que a tônica tem gás. Mas, se deixar a garrafa aberta, ao “Deus-dará”, perde
a graça. Não é mais tônica, não é mais nada.
Não sei se o destino é traiçoeiro, como muito se diz, ou se as
coisas acontecem mesmo para solapar aquela expectativa que não deveria ter
nascido. Expectativas, por vezes, são árduas lutadoras. Criam raízes, se fixam
com uma propriedade única, inestimável. Mas, também, quando a gente as corta,
fazem estrondos. É como uma floresta vindo abaixo dentro da gente, abrindo
clareiras de um vazio que sufoca. Há quem sofra para o replantio. E há quem não
plante mais nada e nem mesmo se dê conta de que o amor, por mais difícil que
pareça, sempre vale a pena.
A desilusão do desencontro é pior que café frio, que sal no lugar do
açúcar. É a incapacidade de retribuir. E o desencontro está ali na declaração
de amor de quem não se espera enquanto quem se deseja esnoba a mais sutil
investida. É o desencontro do querer e do acontecer. É o distanciamento de
gente e sentimentos, como se ambos rumassem em direções contrárias, sem direito
a rever a rota.
A lei do desencontro é assim, desconexa. Mas é verdade que pacifica
uma hora ou outra, que estenda a bandeira branca. Porque ainda há esperança nos
encontros. E que estes, sim, sejam muito maiores do que estar na mesma direção,
lado a lado. Que sejam encontros, frente a frente, em que não se tenha quem
seja o melhor. Mas que se encontrem as almas. Sem desilusão. Sem protocolos. Só
com a pureza de espírito. E isto é o bastante. Guarde. Aguarde. Pelo teu
encontro. Sublime encontro!
Mônica Kikuti
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