LEITURA
COMPANHIA E AUSÊNCIA
Houve dias em que vi o desalento. Estive com
ele, aliás. Tudo era cinza. Ele não era nada simpático. Era pegajoso e
possessivo. Nostálgico de sobremaneira.
Ele
não queria me libertar, não. Andava comigo onde quer que eu fosse. Não me
deixava nem na hora das refeições. Estava ali, incólume, permanente. E me
olhava como quem tem controle total; a supremacia que não se empresta a ninguém
além de nós mesmos.
O
desalento não me dava folga. Era dia e noite. Noite e dia.
Era
presença e falta ao mesmo tempo. Era a constância nos pensamentos e a tragédia
sorrateira do dia a dia, onde nada dava certo. Ou onde tudo tinha algo errado
para mostrar que a vida não é como a gente quer. A vida é. E ponto final.
O
desalento esteve sob sol e chuva. Aguentou desaforos de toda espécie, mas mesmo
assim não me desgrudava.
Até
que eu decidi que ele não precisava estar mais ali, já que não ajudava em nada.
Era, na verdade, um peso morto. Não me fazia companhia. Ele era apenas a
ausência de toda fé e força que eu tinha esquecido que co-existia em mim.
De
uma hora para outra, o desalento murchou. Desalentou-se em si mesmo. Entrou num
beco sem saída, onde o deixei desaparecer, quando minha força ressurgiu das
profundezas. Ela era, realmente, soberana em tudo...
O
desalento me ensinou muita coisa. Me ensinou que não preciso de
pseudo-companhia e de ausência ilimitada. Não preciso de nada, além de tudo o
que habita em mim. E habita entre flores, cores e tantos perfumes.... ou o
simples aroma de perfumar-se com sua própria essência.
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