Educação
um
grito sem eco
Fui ao Conselho tutelar e à Delegacia, por causa de alunos...
Vocês podem achar que é o começo de uma ficção. Não, é vida real, tornando-se
rotina nas escolas brasileiras.
Talvez acreditem que fiquei feliz, que consegui pelo menos que
esses jovens e seus pais tomassem consciência da gravidade de suas condutas.
Enganam-se, fiquei decepcionada, descrente... Eles nem se importaram porque, para
eles, a errada sou eu. Até tiraram fotos com a placa do Conselho tutelar e
colocaram nas redes sociais, como se fosse um dia de festa, grandes
comemorações e para mostrar como são “terríveis”... Nossas instituições, para
eles, são uma piada...
Eu, professora do 6º ao 9ºano, mas que poderia ser outra
professora de qualquer série ou escola de nosso país. Eu, que estudei, desejei e
desejo ardentemente auxiliar meus alunos, orientando-os para um bom futuro,
vejo-me obrigada a tomar tal atitude com crianças, que poderiam fazer a
diferença, mas que estão a se desvirtuar de um caminho, quem sabe mais feliz...
Sinto-me incapaz... Não sei lidar com certos comportamentos,
entre outros: drogas; falta de limites além da normalidade; má educação; “corredor
polonês”; bullying; intimidações; ameaças; desrespeito; desacato; humilhação; guerra
de merenda, pratos e canecas; ver meu aluno do 6ºano ser machucado sem nenhum motivo
pelo aluno do 9º
ano, para este mostrar como é forte, não
acontecendo nada ao agressor; ver numa mesma família, irmão após irmão morrerem
ou serem presos, estando impotente, e, ainda, ser desrespeitada por seus responsáveis,
quando quis apenas educá-los, fazer com que mudassem sua trajetória; ver outras
crianças de séries anteriores sendo ensinadas: a roubar, drogar-se; presenciar
crianças coagidas, com medo... E não poder fazer nada... Dia após dia... Eles
conhecem todos seus direitos, que a lei faculta, porém nenhuma de suas obrigações
mínimas, porque estas a lei não contemplou explicitamente.
Nas escolas, professores ficam doentes ou indiferentes ou
afastam-se do trabalho... Inspetores em número bem menor do que o necessário e
sem o perfil adequado: jovens, com
compleição física fraca, sem experiência, vêem-se
frente a frente
com alunos enormes, que desacatam e assumem uma atitude de intimidação o tempo
todo, até fisicamente. Sentem-se no inferno e desejam ardentemente saírem dali
ou deixam de tomar qualquer atitude, para não serem machucados ou serem
colocados, através de manipulações, como “agressores”. temos
de aceitar todo
tipo de ofensas, agressões, mas não podemos ensinar, educar... Atualmente, não somos adultos, porém pessoas
frágeis, impotentes, totalmente desprotegidas... A lei conseguiu o impossível...
Eles dominam e alguns pais apoiam ou, não sabendo o que fazer, abandonam seus
filhos na escola...
A inclusão nas escolas é algo positivo, mas necessita urgente,
em alguns casos, haver acompanhamentos psicológicos e sociais, como prevenção,
evitando tantos “crimes” de adolescentes, que assolam nos dias de hoje nossa
sociedade.
Se eu for agredida por um aluno hoje, não acontecerá nada com
ele, e ele sabe bem disso. Estamos desprotegidos, inseguros... Nosso grito é
sem eco, ninguém nos quer ouvir.Não pensem que não gosto desses alunos problemáticos,
eu os amo muito, mas também tenho muita pena, e isto é a pior coisa que podemos
sentir por um ser humano, porque o julgamos incapaz... Entretanto, seu
reencaminhamento ao convívio social saudável foge da minha formação e,
portanto, minha capacidade. Só amor não resolve, bem que gostaria que fosse o
contrário...
Profa. Maria
Lucia
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