MAGAZINE SHOP BLUES

OFERTAS FANTÁSTICAS

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

EDUCAÇÃO - Inclusão: o valor da palavra

Educação

Inclusão: o valor da palavra

A terminologia para se referir às pessoas com deficiência foi mudando de acordo com o que se entendia sobre o tema. Saiba o que dizem os especialistas e navegue pela linha do tempo interativa.




Palavras como "inválido", "defeituoso" e "incapaz" hoje soam terrivelmente pejorativas e desrespeitosas aos nossos ouvidos quando nos referimos a pessoas com deficiência. Antigamente, no entanto, elas compunham a nomenclatura vigente e eram utilizadas de forma natural em conversas e textos, como leis e matérias de jornal. Ao longo dos anos, esses termos foram sendo substituídos por outros, chegando a "pessoas com deficiência" - atualmente adotado por órgãos oficiais e recomendado por especialistas.
Longe de caminhar sozinha pelo tempo e ser escolhida ao gosto do falante, a nomenclatura de inclusão -- aquela usada para se referir a pessoas com qualquer tipo de necessidade especial -- acompanha a evolução do que se entende por deficiência. E, portanto, cada mudança de terminologia agrega um valor diferente à palavra. "Essa nomenclatura e seu valor refletem a cultura do momento. Nem sempre a mudança é para melhor e ela pode até significar uma regressão", explica Romeu Kazumi Sassaki, consultor de inclusão há mais de 50 anos e autor de diversos artigos sobre o tema.
Para os especialistas no assunto, a discussão sobre terminologia é muito importante, porque mostra os avanços na forma como as pessoas com deficiência são vistas pela sociedade da qual fazem parte. "Quando você muda o modo de falar sobre alguém, de nomear alguém, você também muda o comportamento em relação àquela pessoa", explica a professora Rossana Ramos, doutora em linguística e autora do livro Inclusão na Prática: Estratégias Eficazes para a Educação Inclusiva (Ed. Summus, 128 págs.).
"Politicamente correto" não deve motivar mudança
Ainda que a mudança de terminologia vise deixar claro o conceito de deficiência e fugir do preconceito, algumas pessoas ainda confundem a transformação com o politicamente correto. A jornalista Cláudia Werneck, autora de 14 livros sobre inclusão e superintendente da Escola de Gente, organização que promove projetos de comunicação inclusiva, é enfática sobre isso. "Eu sou contra o politicamente correto. Eu trabalho com o inclusivamente correto", diz. Essa confusão pode levar a criação de eufemismos, bons exemplos da má compreensão do conceito. "A pessoa entende [a deficiência] quase como um castigo, mas não quer que ninguém saiba disso e começa a criar metáforas", explica. Um dos exemplos é o termo "pessoa especial". "Em termos de política pública de Estado democrático, toda pessoa é uma pessoa de direito e não um ser especial. É preciso entender que as pessoas com deficiência têm necessidades específicas inerentes à deficiência", explica Cláudia.
O consultor Romeu Sassaki entende que os eufemismos podem nascer com uma boa intenção, procurando diminuir o impacto da palavra deficiência, mas, no fundo, terminam sendo uma camuflagem para a realidade. Além disso, eles não são exclusivos para as pessoas com deficiência. "Os eufemismos não conseguem atingir o objetivo de dar um nome correto àquele grupo, não o caracteriza em relação aos demais grupos", diz o consultor.
A hora certa de usar
Depois de se familiarizar com a terminologia mais aceita, é preciso também saber quando usá-la para não cair na rotulação. "Quando você coloca a deficiência na frente da pessoa, você a está rotulando", diz Daniela Alonso, psicopedagoga e selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10. Frases como "cego ganha na loteria" em uma notícia seria um exemplo, já que o fato de a pessoa ter deficiência visual não é o mais importante para o texto. Por isso, é necessário contextualizar sobre o que se está falando para dizer que alguém é uma pessoa com deficiência.
Após toda essa discussão, é importante lembrar que a nomenclatura de inclusão é mutável e a escolha desta ou daquela palavra traz consigo um valor. Evitar termos já superados ajuda a não propagar preconceitos, ainda que por desconhecimento. "A linha do tempo mostra as mudanças que ocorreram e não necessariamente que a sociedade aprendeu a não usar os que foram superados", diz Sassaki.
Raissa Pascoal


Nenhum comentário:

Postar um comentário