LEITURA
CANSEI DE
DEGOLAR-ME TODOS OS DIAS
Embriaguei-me para ir e poder ficar.
Afundei-me
na areia movediça.
As
luzes ficaram distantes.
Não
havia distância entre o nada e eu.
Estávamos
juntos, condenados ao imponderável.
Cantei
meus versos, inventei minhas músicas.
Acenei
para o desconhecido; à beira do precipício.
Há
quem me enxergue no escuro.
Quem
me leia e acredite que estou caindo na derrocada de mim mesma.
Que
absurdo!
Ninguém
sabe de nada. E nem eu sei mais de mim. Do que ninguém.
Tenho
caminhado, levando comigo as devidas escoriações de ter saído do fundo do poço.
Ninguém
escapa incólume.
Não
corro... ando.... levo estes fardos e feridas.
Não
tenho mais pressa de nada. Muito obrigada.
Escorrego,
mas ainda fico em pé.
Entre
tudo que me confunde e entre nada que me acontece, há uma imensidão de mundos.
Sinto
algumas faltas; mas elas já não têm mais lugar. Nem valem tanto.
Superestimei
sensações, pessoas e subestimei minha capacidade de resiliência.
Eu
fui o que sou. Eu sou o que fui.
Eu
sou e ponto final.
Cansei
de degolar-me todos os dias.
Pra
que perder a cabeça?
Por
pouco ou muito: nada valida este suicídio cotidiano.
Ainda
choro de repente. E de repente também me recomponho.
A
saudade chega sorrateira e quando me dou conta, ela quer se apropriar de tudo.
E eu
já não tenho mais nada.
Quiçá
apenas o imponderável.