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quinta-feira, 2 de abril de 2015

VIRTUDES - HUMANO EM SER

VIRTUDES
HUMANO EM SER
As segundas-feiras parecem ter uma sobriedade encrustada, aquela nostalgia do fim de semana que já passou. Não quero que elas sejam todas iguais, embora nunca sejam mesmo. Cada momento é único na vida da gente.
Pensei em tomar café na outra padaria, ver pessoas diferentes das que eu vejo todos os dias no mesmo horário. Ter novas histórias.
O Bahia me atendeu como se eu lá fosse todo dia. Botou o café com leite na xícara branca, como fez desde a primeira vez que me viu. Ele nunca me serviu no copo americano e, por mais que eu não tenha perguntado neste tempo todo, sei que ele me faz distinção. Num dia, quando uma outra moça me atendeu, ele chegou e disse: "Olha só, ela colocou para você neste copo! Viu como eu sei tratar bem os meus clientes?".
É, eu sei que sabe.
A nova colega do Bahia, jovenzinha, é desastrada. Quebrou copo, quase caiu. O Bahia foi lá, ajudou. E a menina disse: "Ele me liga para eu não perder a hora".
Pensei: ué, vai ver que é parente. Num mundo em que as pessoas mal conversam entre si – talvez mais entre celulares – e os colegas de trabalho querem mais é que todo mundo se exploda, seria possível benesses deste tipo?
Sim, seria.
O Bahia liga para a menina sem interesse nenhum – destes que a gente possa imaginar. "Eu me preocupo com quem paga aluguel, que nem eu. Só quero ajudar".
Sem folga há um ano e sete meses, o Bahia levanta todo dia às 4h. Mora no Itaim Paulista e vem com os patrões para a padaria de Guarulhos, onde trabalha há três anos. É funcionário exemplar. Nunca faltou. Chega no horário. E gasta seus créditos ligando para despertar a menina que mora a cinco minutos da padaria.
Ele faz de bom coração, de bom grado que falta a muita gente e, às vezes, em nós mesmos. O Bahia tem disposição. Não reclama. Não ganha muito, mas faz o bastante com o que tem: é ser humano. É humano em ser. Não tem esta mesquinhez de querer puxar o tapete de ninguém ou de querer ser o melhor. É apenas ele mesmo na grandeza da hombridade que hoje não se vê tanto por aí.
O Bahia bota o café na xícara. Serve amor. Não tem tempo ruim, não tem dor de cabeça. Não tem segunda feia. Porque há boniteza em viver.
Um dia de cada vez.
Um café de cada vez.
Humano em ser.
Divinal.


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