VIRTUDES
Leitura
ADOCIQUE A VIDA
Ganhei um bolo com
estrelas coloridas no meu aniversário, assim, de surpresa, feito com todo o
carinho por uma leitora querida. Nunca tinha ganhado bolo de surpresa!! Tinha
era recebido o bolo que o povo dá quando a gente marca uma coisa e a pessoa não
aparece – ou desmarca na última hora. Ah, dá uma raaaaivaaa!
Mas, o bolo de verdade,
confeitado com toda a delicadeza do mundo, foi a materialização de um carinho
que não se compra. E eu adoro mesmo o “incomprável”: aquilo que dinheiro nenhum
no mundo pode comprar, porque não é vendido. Está ali, único, e vem de forma
gratuita e genuína. O “incomprável” traz uma felicidade arrebatadora na vida da
gente, algo que transcende, que marca por dentro sem machucar. Que fica para
sempre nas lembranças que nos confortam e fazem girar a mola propulsora do
amor.
Houve quem também me
deu chocolate para se redimir do bolo de não ter ido à minha festa. Eu gostei.
Chocolate adocica. Lembrou da música: “Adocica, meu amor, adocica”? Pois então,
quem daria sal no lugar de açúcar? Só se fosse sal grosso!
A doçura traz conforto.
E ser doce também. E aí eu me lembrei de algo doce. Doce mesmo, mas que não
enjoa. Que não precisa tomar água por cima para aliviar aquele melado que fica.
É um doce que mal dá para descrever, mas que a gente tem que apurar muito. É um
doce que, no começo, é bem amargo. Mas depois vira mel. E virar mel dá
trabalho, mas não tem nada igual a mel – embora haja um ou outro que não goste.
O perdão é assim: doce.
Doce e único como mel. O perdão traz conforto, tira o amargor das coisas. Livra
a vida da amargura. Liberta o coração daquele nó. Desata. Desamarra. Desamarga.
Perdoar é abrir as
algemas. É deixar de açoitar. É tirar a venda dos olhos e enxergar a vida mais
suave. Sem fardos, sem sinal vermelho, sem ressentimentos.
Quando a gente pensa
que há coisas imperdoáveis acontecendo e que estamos de mãos atadas, a vida
salga um pouco mais. Mas, se a gente cultivar em si mesmo um pote de mel, por
menor que seja, é o doce para momentos difíceis ou para dessalgar qualquer
tormento.
Não é fácil perdoar,
mas desejar o perdão é um começo. É como construir a base da colmeia. Aos
poucos as coisas acontecem. Mas dê o tempo que for preciso. E transforme o sal
em açúcar. Seja uma abelha. Faça mel. Chega de empedernir as coisas... Chega de
ressentimento ou de bobagens inventadas. Liberte. Jogue mel nas coisas. Jogue
mel em si. No outro e no que era amargo. Adocique-se!
Mônica Kikuti
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