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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

VIRTUDES/LEITURA - SÓ FALTA



VIRTUDES
Leitura
SÓ FALTA
De frente ou de verso.
Só falta um poema.
De fora ou de dentro.
Só falta passagem.
De si ou de ti.
Só falta uma chance.
De bem ou de mal.
Só falta uma escolha.
De dia ou de noite.
Só falta um alguém.
Do começo ao fim.
Só falta um sim.
De tudo ou de pouco.
Só falta uma medida.
De azul ou de branco.
Só falta uma tinta.
Do mar ou da onda.
Só falta uma prancha.

VIRTUDES/LEITURA - DESTINO-ME



VIRTUDES
Leitura
DESTINO-ME
Nas colinas, os desejos no alto.
O vento frio, diante dos sentidos aquecidos pelas experiências renovadas.
Recomeço.
Na caminhada, as curvas infinitas dos esboços de tudo o que foi e que será.
Gente que se estica, que movimenta, lentamente.
Braços no ar.
O ar no corpo.
Sensações predestinadas.
Puramente.
Que ainda esperam o dia certo.
Destinado.
Para ser assim.
Aguardo.
Guardo.
Em mim.

VIRTUDES/LEITURA - PERTO, BEM PERTO



VIRTUDES
Leitura
PERTO, BEM PERTO
Por vezes, se busca tão longe.
Se cruza fronteiras.
Atravessa-se rios.
Se vê tudo de cima.
Nos voos com destino, diante de tantos desatinos.
Mas o que se deseja sempre esteve ali.
Do outro lado.
Do contrário.
Do lado visto, mas nunca explorado.
A três quilômetros e duzentos metros.
Perto, bem perto.
Naquele círculo de gente.
Em sentido horário.
Sem hora.
Mas com o tempo certo.
Perto.
De chegar.

VIRTUDES/LEITURA - CONFORTO



VIRTUDES
Leitura
UM CONFORTO
Era um início de tarde de sábado. Ainda havia poucos clientes num supermercado atacadista, quando começou uma movimentação. Eu estava já na fila do caixa quando vi uma mulher japonesa, nervosa, procurando um funcionário da loja. Ela havia pedido ajuda e solicitado para que não permitissem a saída de nenhum automóvel do estabelecimento, pois tinha “perdido” a filha dentro do comércio.
Passaram-se talvez dois minutos e uma senhora, que parecia ser a avó da criança, apareceu avisando que tinha encontrado a menina, na seção de bebidas. A garota era uma fofura. Mesticinha, de uns quatro anos, no máximo, estava encostada no corpo da avó, com uma carinha apreensiva, esperando as cenas seguintes.
A mãe já estava aos prantos. Confesso que aquela angústia dos dois minutos também me deixou nervosa. Já estava quase tendo um treco, porque me imaginei no lugar daquela mulher.
E quando ela viu a filha foi algo muito mágico. Pegou a menina nos braços e a abraçou docemente. As lágrimas molhavam o cabelo da criança. Era carinho ao invés de braveza. Era conforto ao invés de repulsa. Era sossego e alívio. Era amor.
Quão amorosos somos todos os dias com quem nos importa? Como temos reagido a situações de estresse, por menores que sejam? Será que vale a pena brigar por coisas tão mínimas? O perdão tem mais espaço nas nossas vidas do que a raiva e a vingança?
Aprendamos com a mãe amorosa, que reencontrou a filha perdida (entretida com aquele montão de coisas gostosas), e não disse uma palavra sequer. Só agiu com ternura. Agiu com o coração aberto de verdade. Sem julgamentos. A resposta, muitas vezes, está em ser mais positivo do que negativo. Em ser mais amor. Só mais amor.