VIRTUDES
Leitura
O FIM E OS MEIOS
Não sei por que muitas pessoas decidem
botar um fim nos relacionamentos ou terem DRs intermináveis em locais públicos.
Os personagens são diferentes, mas as cenas se repetem com impiedosas palavras
que ferem tudo (e mais um pouco) induzindo a um choro contínuo do mulherio
(homem não chora, né?).
O
shopping, talvez, esteja no topo dos locais para assassinar relações com a
frieza dos piores criminosos. Para começar, ninguém senta do lado do outro,
como se fazia quando os sentimentos eram cultivados com as melhores
prerrogativas. Como se fosse em um interrogatório – com a missão de se
encontrar um culpado – as pessoas se enfrentam com espinhos, lanças, bombas,
num esbofetear ligeiro e sarcástico. Alguns abaixam os olhos. As palavras
cegam, abrem buracos, oceanos de insatisfações e secam sentimentos tão
rapidamente como os níveis do Cantareira.
A
mulher retira, sorrateiramente, o providencial lenço de papel que sempre esteve
na bolsa para situações como aquela. Tenta macular a raiva com as lágrimas que
cingem um semblante, agora detonado por acusações abruptas, com aquela culpabilidade
crescente de tudo o que aconteceu. As pernas tremulam com a inexorável
ansiedade do fim e talvez sacolejam também os comprimidos de Rivotril que terá
de tomar pelos próximos dez anos (aceita que dói menos! Tô falando...).
Do
outro lado, quase na fronteira do abismo, o homem comprime as mãos, tenta falar
calmamente, ensaia uma comiseração repentina diante daquele choro incontido da
recém-intitulada “ex”. Ta-di-nhaaaa!! Em dado momento, só lança um olhar de
“não tenho mais o que dizer”, enquanto os soluços alheios ressoam por entre as
mesas transformando a dor em funeral. Em mais um amor que foi para debaixo da
terra. Em mais um “negócio sentimental” que não deu certo e que foi posto à luz
da consciência coletiva numa praça de alimentação, povoada de gente,
empanturrada de comida e de todo tipo de diálogo racional.
Momentos
de silêncio. E cada um recolhe sua tralha emocional. O resto de um amor que
virou pó. A sobra que ninguém quis, mas precisa ser retirada da frente, tomar
um rumo.
A
devastação está consumada. Tudo se consumiu, aliás. E as coisas poderiam ser
tão diferentes... Não espetacularizadas, com o ridículo espionando e
regozijando-se.
Tudo
tem um fim, é verdade. Mas o fim poderia ser mais justo e menos hipócrita,
sobretudo quando estamos falando de relações, de gente que se gostou, que
planejou um futuro. Menos impiedade, mais respeito! Menos “lero-lero” e mais
diálogo! Menos “mimimi” e mais admiração! Porque o fim é certo, mas os meios
não.
Mônica Kikuti