Virtudes
Memórias
Lembrei de algumas sensações
adormecidas lá nos meus 20 e poucos anos. E às vezes, as lembranças mais
nefastas vêm à tona como se fossem agora, porque estão presas na memória em
forma de dor, sofrimento.
Não
foram beliscões, nem chineladas. Foram aquelas lágrimas que lavaram a alma, mas
deixaram uma poça no caminho. Uma poça que, se a gente não desviar, de repente,
a gente pisa lá de novo. Sem querer.
E
sofre. Tudo de novo.
Lembrei
do que me disseram. E do que me escreveram. Lembrei do que eu disse. E como foi
forte o meu dizer, para um coração quase derrotado.
Lembrei
das lágrimas que não merecia verter. Lembrei das que mereci.
E
lembrei de tanta coisa que, por um triz, pensei que tinha voltado no tempo ou
morrido uma vez. Só pra nascer de novo.
Minha memória sempre foi minha
grande amiga – embora, às vezes, uma aliada cruel. Eu não lembro de quase nada,
embora eu sinta quase tudo.
Lembrei das minhas frases. Da
voz incontida. Do tom que se perdeu. E de alguém que cresceu. E amadureceu.
Lembrei dos finais, nem sempre
felizes. E da satisfação das decisões, embora duras.
Nunca
embruteci. Nunca me perdi. Sempre achei uma resposta. Demorasse o tempo que
fosse. Tinha uma resposta.
E nem sempre a gente quer uma
resposta que refresque sofrimentos.
Mas, como dizem os budistas: as
desilusões nos colocam diante da verdade. A verdade que a gente achava que era
mentira, talvez uma esperança disfarçada.
E a verdade, por vezes, dói.
Mas, a verdade também traz aconchego. Livramento. Liberdade. Alívio.
Que a verdade possa doer, mas
sempre alivie.
Alivie a dor no peito.
Alivie o peso no peito.
Alivie a mente.
Alivie
o coração.
Alivie
até o que não se vê.
E
alivie tudo o que se sente.
Amém!
M. KIKUTI