VIRTUDES
Venha à tona
Já passou por aquela tortura de
procurar uma coisa e, depois de tanto esforço, encontra-la bem diante dos
olhos? Ou, quando não estava procurando, ela apareceu, assim, do nada, no lugar
mais besta do mundo? É... mas ela sempre esteve ali, na cara, e você não viu!!!
Muitas vezes a gente demora mesmo para notar o que está diante dos olhos. A
gente, simplesmente, não enxerga. Não toma consciência. Aquilo passa batido,
como tantas coisas que deveriam ser notadas. Anotadas. Sentidas. Vistas.
Lembradas.
Vira e mexe, pedestres e motoristas
me param na rua para perguntar direções, não sei por quê. Preciso de alguns
minutos para me situar no tempo e espaço antes de falar. E aí dou a informação
(ou não, porque tem vezes que eu também não sei). Ontem, um homem me parou para
perguntar onde poderia tirar xerox. Pensei e lembrei de um comércio a
duas quadras e meia de onde estávamos. Tudo bem: informação dada corretamente,
um cara “feliz” e eu satisfeita.
Fiz “n” coisas que tinha que fazer e
voltei, caminhando, pelo mesmo trajeto onde tinha dado aquela informação.
Aliás, um trajeto que faço quase diariamente. Atentei-me a uma vitrine. O
comércio é relativamente novo. Talvez não tenha um mês. E aí li um cartaz em
letras graúdas: “xerox”. Como eu não tinha visto aquilo antes??Tudo bem que o
comércio em nada se parece com papelaria ou coisa do gênero, mas mandei o cara
andar duas quadras e meia se a gente estava quase na frente do lugar do
xerox... Fiquei passada com a minha falta de atenção, mas também agradecida por
ter me dado alguns segundos e notado que há sim outras alternativas para se
tirar xerox no bairro, muito mais perto do que eu imaginava. Um dia posso
precisar desta informação, como precisei ontem.
E assim também se desenrola a vida da
gente. Com coisas e pessoas que parecem invisíveis, mas serão vistas, mais dia
menos dia. Por vezes, também somos invisíveis. Parece que ninguém está nem aí
para o que a gente pensa, para o que somos, para o que podemos oferecer, para a
nossa existência, simples e puramente. Mas, peças únicas – como as que somos –
não ficam muito tempo escondidas. Elas vêm à tona. Brilham. Irradiam.
Conquistam. Pulam diante dos olhos. Entontecem. São encontradas quando menos se
espera, porque fazem a diferença no todo. Basta tomar consciência. E deixar vir
à tona. Deixar-se aparecer. Pelo que se é. Não pelo que querem que a gente
seja.
Venha à tona! Sem medo. Sem passar
batido diante de si e dos outros. Porque a gente não é xerox. É peça única. Sem
fotocópia.