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segunda-feira, 25 de maio de 2015

VIRTUDES - DE QUÊ?

VIRTUDES
Leitura

DE QUÊ?
    
Das inspirações súbitas, dos sorrisos que vão.
Dos olhares que te invadem pela íris, desnundando tudo.
Das respostas que não respondem.
Dos avisos que não chegam.
Das vozes que se escuta, de dentro para fora. Das que viram melodia, assim, de repente, no mundo real.
Da caneta que exprime. Comprime palavras como tudo o que está no peito.
E não tem mais jeito.
Dos conselhos que não se pede, mas se repetem.
Da música. Do dia frio.
Dos pensamentos, dias a fio.
Sem fim e tantos recomeços.
Dos perfumes, que se insinuam com o que não se pode ver.
Das velas acesas.
Da luz retida: consentida em se repartir.
Das contas perdidas nos dedos da mão.
Das delicadezas feitas.
Do bater que não fere. Interfere.
Na pulsação.
Me dê a mão.
E mais inspiração.
Mônica Kikuti                       
   

                                         

LEITURA - A CRUCIFICAÇÃO

TEOLOGIA
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A CRUCIFICAÇÃO
    
Jesus saiu carregando ele mesmo a cruz para o lugar chamado Calvário. (Em hebraico o nome desse lugar é “Gólgota”.)
Ali os soldados pregaram Jesus na cruz. E crucificaram também outros dois homens, um de cada lado dele. Pilatos mandou escrever um letreiro e colocá-lo na parte de cima da cruz. Nesse letreiro estava escrito em hebraico, latim e grego: “Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”. Muitas pessoas leram o letreiro porque o lugar em que Jesus foi crucificado ficava perto da cidade. Então os chefes dos sacerdotes disseram a Pilatos:
— Não escreva: “Rei dos Judeus”; escreva: “Este homem disse: Eu sou o Rei dos Judeus”.
— O que escrevi! — respondeu Pilatos.
JOÃO 19:17-22
                         
                         

                                         

VIRTUDES - ME REFAÇO E TE DESFAÇO

VIRTUDES
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ME REFAÇO E TE DESFAÇO
    
Despertei de um sonho.
Que durou tanto tempo.
E agora tenho de me refazer para desfazer você de mim.
Não era para ser assim.
Me refaço e te desfaço.
Como se fosse num laço.
Imperfeito.
São os golpes que a vida traz.
E que faz de um amor fugaz.
O dia e a noite.
Que não se encontrarão.
Mônica Kikuti
                     
                             

                                         

VIRTUDES - AS FAGULHAS DE MALDIZER

VIRTUDES
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AS FAGULHAS DE MALDIZER
    
Já passava da meia-noite quando decidi tomar um café numa noite destas. Em um bloco de anotações, um monte de coisas por dizer, ideias, sensações e até preocupações. Enquanto a caneta de ponta porosa não anunciava nenhuma nova palavra, abri um livrinho de orações para refletir os episódios que se descortinavam intensamente nestas semanas árduas de trabalho-hospital, hospital-trabalho.

Duas mulheres que não estavam tão perto decidiram mudar de mesa e sentaram-se quase ao meu lado. Até então, os minutos transcorriam com a tranquilidade da mente que se apaziguava com a emoção das palavras a serem escritas. Só que uma voz quebrou o encanto. Era a da interlocutora da mesa ao lado.

Inevitável não ouvi-la. A voz estridente, nas falas em 300 quilômetros por hora, anunciava uma conversa desconcertante. Havia ali uma energia estranha, que se dissipava como espinhos lançando a esmo fagulhas de maldizer. Logo ela disse: “Você sabe a fulana? Então, veio me abraçar e não queria me largar mais. Não me soltava de jeito nenhum! Uma falsa! Falsaaa, falsaaaa”, dizia e, em cada repetição, a ênfase era maior. Parecia que sua voz reverberava numa vibração perturbatória. Eu já não conseguia me concentrar.
             
Falou sobre alunos, pais. Deduzi que fosse professora ou que trabalhasse numa escola. Talvez fosse funcionária pública. O fato era que boa parte do que saía dela eram ofensas prescritas, julgamentos e sentenças arbitrárias. Nada de positivo. Era como se houvesse uma nuvem negra pairando sobre a mesa, embora a outra mulher pouco falasse.

Comecei a escrever algumas palavras, mas ainda assim a vibração que vinha dali parecia que se agigantava diante de mim, impossibilitando que houvesse algo maior do que a vergonha alheia, do que uma tênue tristeza diante da falta de amor daquelas frases construídas em uma contínua desconstrução do outro. E tantos de nós temos de conviver com pessoas assim: cheias de tudo o que é ruim e vazias de tudo o que é bom.

Também nós, muitas vezes, nos atiçamos em falar mal dos outros, conduzindo conversas para o vexatório fim que nos condena. Se podemos calar, por que maldizer? Por que vibrar na energia negativa se temos tanto a nos sintonizar na positiva?

O café estava tomado e havia nele o gosto de compaixão que devemos ter diante do condenável dos outros e de nós mesmos. Como o escrito do calendário: “Não há força mais poderosa no universo que o amor.” E se aquela mulher tivesse um pouco mais, nem que fosse uma xícara, sem dúvida, não teria despejado tanta amargura na aurora que se anunciava. Portanto, que tomemos mais café, mais xícaras do que é bom. Com amor, com a doçura das coisas e do que a gente traz em nós.
Mônica Kikuti
                              
                    

                                         

VIRTUDES - QUEM? O MEDO!

VIRTUDES
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QUEM? O MEDO!
    
    
Quem? O medo!

O medo é avassalador como as paixões. Ele interrompe, rompe sentimentos. Cria tentáculos.
O medo é criatura. Que perscruta de forma individual e coletiva.
Que finge. Que foge. Das coisas visíveis e invisíveis. Que não se vê, mas se sente como a brisa da manhã, como música nos ouvidos.
O medo é lento e rápido. Mas não perde tempo.
Ah, o medo!! Sempre vilão de tudo e de todos. Dos amores possíveis e impossíveis. Das dores criadas e das sentidas. Dos sorrisos mascarados, do desalento da hipótese.
E revestir-se com esta couraça é virar refém de si mesmo. De um universo construído e prestes a ruir quando o medo soprar o vento que chega, com a violenta cólera do desfazer.
Por hoje não julgo e não temo. Inviolavelmente.
Mônica Kikuti
                                    
              

                                         

VIRTUDES - EM DESARRANJO

VIRTUDES
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EM DESARRANJO
    
Nas músicas, os encantos que não desarranjam.
Acordes que não se perdem, como se perderam tantas coisas.
Quem as achou? A quem pertencem agora?
Em buscas distantes, as imagens de 20 anos.
Os mesmos presságios. Os mesmos sentimentos.
Escritos esculpidos e desarranjados.
Barro molhado.
Cerâmica quebrada.
As cores eram azuis.
Pretas, talvez.
Borradas no amarelo.
Vermelho. O laço da fita.
Com um fio puxado.
Prestes a virar linha.
O fim.
Da linha.
Mônica Kikuti
                              
                    

                                         

VIRTUDES - O FIM E OS MEIOS

VIRTUDES
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O FIM E OS MEIOS
    
Não sei por que muitas pessoas decidem botar um fim nos relacionamentos ou terem DRs intermináveis em locais públicos. Os personagens são diferentes, mas as cenas se repetem com impiedosas palavras que ferem tudo (e mais um pouco) induzindo a um choro contínuo do mulherio (homem não chora, né?).
O shopping, talvez, esteja no topo dos locais para assassinar relações com a frieza dos piores criminosos. Para começar, ninguém senta do lado do outro, como se fazia quando os sentimentos eram cultivados com as melhores prerrogativas. Como se fosse em um interrogatório – com a missão de se encontrar um culpado – as pessoas se enfrentam com espinhos, lanças, bombas, num esbofetear ligeiro e sarcástico. Alguns abaixam os olhos. As palavras cegam, abrem buracos, oceanos de insatisfações e secam sentimentos tão rapidamente como os níveis do Cantareira.
A mulher retira, sorrateiramente, o providencial lenço de papel que sempre esteve na bolsa para situações como aquela. Tenta macular a raiva com as lágrimas que cingem um semblante, agora detonado por acusações abruptas, com aquela culpabilidade crescente de tudo o que aconteceu. As pernas tremulam com a inexorável ansiedade do fim e talvez sacolejam também os comprimidos de Rivotril que terá de tomar pelos próximos dez anos (aceita que dói menos! Tô falando...).
Do outro lado, quase na fronteira do abismo, o homem comprime as mãos, tenta falar calmamente, ensaia uma comiseração repentina diante daquele choro incontido da recém-intitulada “ex”. Ta-di-nhaaaa!! Em dado momento, só lança um olhar de “não tenho mais o que dizer”, enquanto os soluços alheios ressoam por entre as mesas transformando a dor em funeral. Em mais um amor que foi para debaixo da terra. Em mais um “negócio sentimental” que não deu certo e que foi posto à luz da consciência coletiva numa praça de alimentação, povoada de gente, empanturrada de comida e de todo tipo de diálogo racional.
Momentos de silêncio. E cada um recolhe sua tralha emocional. O resto de um amor que virou pó. A sobra que ninguém quis, mas precisa ser retirada da frente, tomar um rumo.
A devastação está consumada. Tudo se consumiu, aliás. E as coisas poderiam ser tão diferentes... Não espetacularizadas, com o ridículo espionando e regozijando-se.
Tudo tem um fim, é verdade. Mas o fim poderia ser mais justo e menos hipócrita, sobretudo quando estamos falando de relações, de gente que se gostou, que planejou um futuro. Menos impiedade, mais respeito! Menos “lero-lero” e mais diálogo! Menos “mimimi” e mais admiração! Porque o fim é certo, mas os meios não.
Mônica Kikuti