SAÚDE
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Nova pesquisa comprova
que leite materno reforça o sistema de defesa
Em experimentos com macacos, cientistas dos
EUA constatam que ser alimentado pela mãe nos primeiros 6 meses de vida deixa o
filhote mais resistente a infecções e a doenças autoimunes
LEITE MATERNO FORTALECE SISTEMA IMUNOLÓGICO
- pesquisa comprova
Por: Prof. Marcus Renato de Carvalho, IBCLC
O leite materno é considerado a fonte mais
ideal de nutrição para bebês e desempenhou papel fundamental na evolução e no
desenvolvimento dos humanos. Isso porque exerce uma forte influência sobre
bactérias no intestino, necessárias para o desenvolvimento do sistema
imunológico. A diferenciação das estruturas de defesa a partir desses
micro-organismos pode acontecer desde os primeiros dias de nascimento. Para
testar essa teoria, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São
Francisco (EUA), observaram como a microbiota intestinal se diferencia entre
filhotes de macacos rhesus amamentados e
aqueles que receberam uma fórmula substituta.
Os dois grupos de cobaia foram
alimentados de forma distinta durante seis meses, e mais seis com a mesma dieta
regular. O grupo de cientistas liderado por Amir Ardeshir demonstrou, no fim de
um ano, que os macacos lactentes e os que tomaram mamadeira desenvolveram
sistemas imunológicos marcadamente diferentes e que as dessemelhanças
permaneceram durante pelo menos seis meses após os animais começarem a receber
comidas idênticas. Os resultados, divulgados na edição da última quinta-feira (4)
da revista Science Translational Medicine,
podem explicar, em parte, a variação da suscetibilidade humana a condições de
saúde com base imunológica, como doenças autoimunes, e a proteção variável
contra doenças infecciosas.
“Nós demonstramos que a dieta
infantil tem efeitos profundos e duradouros sobre a microbiota intestinal de
macacos, o desenvolvimento do sistema imunológico e os perfis de metabólitos
(frutos do metabolismo de moléculas ou substâncias) no sangue e nas fezes”,
resume Ardeshir. Segundo ele, as conclusões são uma prova importante para a
compreensão das respostas imunológicas variáveis à vacinação e à infecção, e
das diferentes propensões para o desenvolvimento de enfermidades autoimunes.
SAIBA MAIS...
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dias: a média brasileira de aleitamento materno exclusivo é baixa
Marisa da Matta Aprile, presidente do
Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo,
ressalta a validade de ter estudos em mamíferos não humanos que podem ser
submetidos a ambientes mais limitados quanto à oferta de alimentos. “Quando
fazemos um paralelo do estudo com os humanos, há essa dificuldade de aplicar
uma dieta rígida, como eles fizeram. Eles deram um leite não materno para a
cobaia com o intuito de ver qual seria o impacto na microbiota, nos fatores de
defesa. Trabalho paralelo e semelhante no leite humano a gente não tem até por
questões éticas.”
Aprile, porém, acredita que os
resultados alcançados provavelmente se repetem entre os humanos, já que o
organismo do macaco rhesus é extremamente parecido. A especialista observa que,
no caso desse estudo, o fenômeno de observar benefícios inicialmente em cobaias
pode se inverter, uma vez que já são percebidas na raça humana evidências dos
fatores de proteção do leite materno. “Temos estudos que falam da prevenção da
diarreia, da proteção contra doenças respiratórias e infecções, como a
pneumonia. Até mesmo em problemas que toda a criança tem e que há uma
incidência menor entre as amamentadas.”
Leite materno é uma substância viva com
bactérias “do bem”!
Segundo ela, o sistema imunológico do leite
humano já é muito conhecido por médicos e cientistas. O líquido beneficia o
surgimento de uma colonização de bactérias no intestino chamado probiotas, que
agem na digestão dos açúcares da alimentação e são degradadas em água e
oxigênio. “O oxigênio é um fator de proteção para doença intestinal, e quem faz
isso é a flora.”
Também em humanos
Segundo o presidente da Sociedade
Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, a cada novo estudo que aparece em
relação ao leite materno, mais um conhecimento se soma à gama de benefícios que
garantem a superioridade do aleitamento. Além das questões emocionais, como o
vínculo de mãe e filho, os fatores orgânicos relacionam o hábito à melhoria de
células nervosas, ao amadurecimento do sistema imune e a uma resposta mais
robusta frente a infecções. Kfouri detalha que, definitivamente, o aleitamento
vai induzir respostas diferenciadas no sistema imunológico.
“A população de células imunes
produzidas no nosso corpo é dependente da composição da microbiota intestinal,
especialmente nos primeiros anos de vida, em que o desenvolvimento desse ciclo
de resposta é modulado por essa colonização intestinal”, explica. Kfouri
acredita também que, do ponto de vista biológico, é completamente plausível
imaginar que o fenômeno observado nos macacos se reproduza em humanos. O
especialista lembra uma área em ascensão na pesquisa científica que busca a
“programação” do sistema imune. “Na primeira infância, há a
oportunidade de desenvolvimento do sistema imune por meio da alimentação.”
Segundo Kfouri, é como se o
indivíduo fosse capaz de “treinar” as suas estruturas de defesa para ter um
futuro metabólico, alergênico e de respostas imunes com maior intensidade.
Dessa forma, a introdução dos alimentos e a microbiota de crianças alimentadas
no seio trazem benefícios para a saúde do bebê que, provavelmente, se estendem
ao longo da vida. “Hoje, fala-se, inclusive, que começa antes mesmo de o bebê
nascer, na vida intrauterina. A dieta da mãe e tudo o que o bebê é exposto vão
impactar na saúde, no metabolismo e nas alergias, talvez, pelo resto da vida.”
Nessa direção, o especialista
reforça a importância dos primeiros mil dias, que começam com os nove meses da
gestação e seguem até os primeiros dois meses de idade, para essa programação
imune.
Bruna Sensêve - Correio
Braziliense