VIRTUDES
ECOE ESPERANÇA
Nos pequenos detalhes ou nos grandes
desastres afetivos descobrimos quem são, realmente, as pessoas. Muitas não agem
de acordo com a função que ocupam, seja em se tratando de cargo ou no lugar que
conquistaram dentro da gente como “pessoas estimadas”. Ouvi duas histórias nos
últimos dias. A conclusão a que cheguei é que tem um monte de bruxa travestida
com o “véu da santidade” e que os “amigos da onça” não estão em extinção.
O que seria da nossa vida sem os
desafios? Já imaginou aquela rotina perfeita, sem nenhum chato para implicar,
para fazer a gente valorizar pai e mãe, educação, respeito, os amigos de
verdade? A perfeição é utopia dos apaixonados – que sofrem por tabela. Não tem
jeito. Tem gente que vê a vida colorida. Outros em preto e branco. Depende de
cada um. E a gente sabe que pode colorir a vida como quiser, embora nem sempre
pareça fácil abrir as latas de tinta.
Um padre contou que na época do
seminário, por não ter dado banho no cachorro da madre superiora foi detonado
por ela no refeitório: “Você não serve para ser padre! Aliás, não serve para
nada”, disse ela, deixando escorrer pelo ralo tudo o que deveria pôr em
prática. O jovem quase desistiu da vocação. Palavras machucam demais e podem
ficar ali, intactas, ecoando a vida inteira. Mas no meio de bruxas também há
anjos. E foi assim que um destes emissários de Deus apareceu e acendeu a luz da
esperança, do amor e da boa vontade. E o homem se tornou padre.
Na outra história, uma funcionária
pública tinha uma amiga no trabalho – bem, ela achava que era amiga, mas era
daquelas, da onça. Incentivou-a na carreira e a amiga da onça virou sua chefe.
Tomavam café juntas todo dia, naquela cumplicidade de quem convive e se gosta. Mas,
numa destas mudanças, a funcionária foi transferida de setor e achava que a “da
onça” poderia intervir. Mas não o fez. E aí uma convivência de anos também foi
para o ralo da inconformidade, abrindo um buraco de ingratidão no peito
remendado com o piche da mágoa.
E mágoa é um negócio sólido. Fica ali
como pedra no rim. Dói. Tem que tirar, expelir, dar um jeito. Ninguém quer
ficar com um “corpo estranho” dentro, com algo que não deveria estar ali. Mágoa
tem que ir para o ralo também. Tem que escorrer, sem direito a ficar resquício.
Demora um pouco, mas a gente supera.
O mundo está cheio de ingratidão, de
gente que não sabe agradecer e nem reconhecer. Mas, em contrapartida, também
está cheio de gente grata, de gente do bem, de amigos que não são da onça. Não
dê voz ao desalento. Ecoe esperança. Dentro de si. E para os outros.
Mônica
Kikuti