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Os professores e os jagunços da mídia Diante
das lutas dos trabalhadores, a mídia patronal sempre adotou um comportamento
padrão. Num primeiro momento, ela invisibiliza as mobilizações. Assembleias,
passeatas e greves não são notícias – e, como não aparecem no “Jornal Nacional”
da TV Globo, elas não existem. Já num segundo momento, se a mobilização ganha
força, a mídia simplesmente criminaliza a categoria. Os grevistas passam a ser
culpados pelo congestionamento do trânsito – que são bem raros nos centros
urbanos. Este padrão de manipulação é explícito na cobertura “jornalística” da
greve dos professores de São Paulo, que já dura mais de 40 dias e enfrenta com
coragem a intransigência do governador Geraldo Alckmin.
Diferentemente
da postura adotada nas marchas golpistas – quando a mídia tucana deu manchetes,
fez roteiros para os manifestantes e até alterou a sua grade de programação (a
TV Globo chegou a mudar o horário de partidas do campeonato paulista) –, a
justa paralisação do professorado paulista tem merecido um tratamento
criminoso. Durante várias semanas, a greve sequer foi mencionada no “Jornal
Nacional”. A diretoria do sindicato da categoria, a Apeoesp, chegou a enviar
uma carta ao diretor de jornalismo da emissora, o capacho Ali Kamel, criticando
a total ausência de cobertura da mobilização.
Como a greve
cresceu e ganhou força – cerca de 80% da numerosa categoria está parada e as
passeatas e assembleias reúnem mais de 50 mil professores no centro da capital paulista
–, agora a mídia patronal partiu para a agressão. Ela exige imediata repressão
e tenta jogar a população contra os grevistas. Em editorial neste sábado (25),
intitulado “A baderna da Apeoesp”, o oligárquico jornal Estadão voltou a
esbravejar que “a luta social é caso de policia” – como fazia no período das
greves dirigidas pelos anarquistas, no começo do século passado. Diante de um
confronto isolado com a repressão policial, na última quinta-feira (23), o
jornal rosnou:
“As cenas de
violência protagonizadas quinta-feira por professores em greve, em frente à
sede da Secretaria Estadual da Educação, são muito mais do que um caso de
polícia, embora por si só isso já sejam suficientemente graves, tendo em vista
a importância social da categoria envolvida. Foi um triste atestado do
aviltamento profissional de uma parte do professorado pela militância política,
do qual as principais vítimas são evidentemente as crianças e os jovens de cuja
formação esses professores devem cuidar”. Após elogiar a conduta do governador
tucano Geraldo Alckmin, o editorial rosna: “É altamente preocupante pensar que
o futuro dos alunos da rede pública está entregue a pessoas – ressalvadas as
exceções – que cultivam a intolerância e cultuam a baderna”.
Menos hidrófobo e
mais maroto na criminalização da greve, o editorial da Folha tucana, com o
título “Mestres indisciplinados”, apelou para o fim do impasse. Sem apresentar
qualquer crítica ao longo reinado tucano, que já dura mais de 20 anos e agravou
o caos na educação em São Paulo – com salários aviltantes, péssimas condições
de trabalho e total ausência de segurança nas escolas –, o jornal condenou a
demanda “descabida” da categoria e as cenas de confronto. Na conclusão, não
escondeu que segue blindando o governador Geraldo Alckmin: “Por mais que se
concorde com a necessidade de valorizar a profissão docente, como sempre
defendeu esta Folha, parece manifesto que o sindicato aposta num impasse e no
prolongamento da greve”.
Nas
emissoras de rádio e televisão, o clima que se tenta criar também é o da
demonização da greve da categoria. Alguns jagunços midiáticos estão histéricos
e exigem a imediata repressão aos grevistas. Um deles, o famoso pitbull
Reinaldo Azevedo – da revista Veja, do jornal Folha e da rádio CBN (que toca
mentira), até mereceu mais uma incisiva resposta da presidenta da Apeoesp,
Maria Izabel Azevedo Noronha, que reproduzo abaixo:
*****
Mais um ataque de Reinaldo Azevedo contra
os professores. Até quando?
Novamente, o pseudo-jornalista
Reinaldo Azevedo vem a campo para defender seus patrões, o PSDB. Novamente,
ataca com baixeza minha pessoa e os professores estaduais em greve.
Mentiroso contumaz, este senhor diz
que nossa categoria reivindica 75% de reajuste salarial de uma única vez. As
pessoas sérias, que leem os materiais do nosso sindicato, já sabem que estamos
pedindo um plano de composição salarial para alcançar o aumento de 75,33%
necessário à equiparação salarial com os demais profissionais de formação
com nível superior, como determina a meta 17 do Plano Nacional de Educação
(PNE), que é uma lei votada pelo Congresso Nacional e sancionada pela
Presidenta da República. Reinaldo Azevedo propõe, então, que o governo do PSDB
não cumpra a lei.
Ele vocifera contra um grupo de
professores que tentou ocupar a sede da Secretaria Estadual da Educação, após
uma reunião na qual o Secretário da Educação disse não ou não respondeu aos
pontos da nossa pauta de reivindicações. Ao contrário do que ele diz, nosso
sindicato não deliberou que fosse feita esta ação, mas é compreensível que
professores estejam indignados cansados e estressados com o pouco caso do
governo do PSDB para com a nossa categoria e para com a escola pública.
Por que Reinaldo Azevedo não se
mostra indignado com a postura autoritária e irresponsável do Governador e do
Secretário da Educação, que ignoram milhares de professores em greve há mais de 40
dias e milhões de alunos sem aulas? Sim, porque pode estar havendo tudo nas
escolas estaduais, menos aulas regulares. Alunos são empilhados em salas
superlotadas, com turmas agrupadas, onde professores eventuais tentam manter um
falso clima de normalidade, de acordo com a determinação da Secretaria da
Educação. É isso que deseja Reinaldo Azevedo para os estudantes das escolas
estaduais, porque nutre profundo desprezo pelas camadas pobres da população,
usuárias das escolas públicas.
Este
senhor tenta atacar-me utilizando minha trajetória sindical. Quanta pobreza de espírito! Tenho um
enorme orgulho de minha história, que é bem diferente da de Reinaldo Azevedo, que
ganha a vida dedicando-se a enxovalhar pessoas. Sim, eu me dedico diuturnamente
a defender os professores e a escola pública. Sou professora, estou dirigente
sindical, porque fui eleita e reeleita diversas vezes pelo voto direto para
esta função. E este jornalista?Que
caminhos tortuosos o trouxeram à sua condição atual?
Todos os anos participo da atribuição
de aulas na Escola Estadual Monsenhor Jerônymo Gallo, em Piracicaba, onde sou
professora efetiva. Depois disponibilizo as aulas para outro colega, porque
tenho direito legal ao afastamento para exercício de mandato sindical. Tenho
uma ligação muito profunda com os professores e com os estudantes da rede
estadual de ensino, algo que Reinaldo Azevedo e seus patrões nunca conseguirão
me tirar, porque faz parte da minha alma.
O que interessa, mesmo, é que o
Governo Estadual do PSDB, Reinaldo Azevedo e outros sabujos jamais conseguirão
quebrar a força, a dignidade e espírito de luta dos professores da rede
estadual de ensino. Por isso estão tão nervosos. Por isso, cada vez mais, este
pretenso jornalista escreve seus textos com lama.
Por: Altamiro Borges - Blog do Miro - 26/04
http://www.apeoesp.org.br/noticias/noticias/os-professores-e-os-jaguncos-da-midia/