VIRTUDES
POR INTEIRO
Eu quis viver mais um pouco esta história. Me embrenhar no
imperscrutável.
Havia uma voz dizendo “sim” e
outra dizendo “não”. Cada uma tinha lá suas razões, mas cada fala virava batida
de gongo aturdindo tudo o que eu sentia.
Já não tinha mais controle: se
era raiva, insatisfação, tristeza travestida de melancolia momentânea ou simplesmente
amor.
O medo infestava todas as minhas
emoções fazendo brotar dúvidas que jorravam em forma de lágrimas.
Molhei tudo.
Ensopei os pensamentos, onde uma
parte de mim era enxurrada e a outra o sertão. Por que as duas partes não
podiam conviver bem?
Me sentia dividida, desamparada com as ebulições que nunca
dormem.
O fracasso me afugentava nas mesmas ações repetitivas por
não me dar a oportunidade de enxergar o óbvio.
Enquanto algo rasgava, outro queria costurar com fios de
ouro. Mas tudo machucava. Profundamente.
Cheguei ao topo da muralha erguida entre nós. E vi o outro
lado.
Enxerguei coisas novas e as que eu refutei.
Não seria oportuno voar, mas voltar e quebrar, com muito
esforço, cada um dos obstáculos constituídos entre você e eu.
Tudo imaginário. Inventado e ao mesmo tempo tão real que me
faltavam forças para dizer qualquer palavra.
Resisti até onde pude; se é que isto tudo foi resistência
ou clemência. Algo novo pedia para existir, para não ir embora junto com as
frustrações passadas e a “bolinha vermelha” do “não foi desta vez”.
Desarmei-me. Deixei de ir ao ataque, a um combate. Fui
apenas a um encontro.
E nos encontros é que estão todas as emoções que, por
vezes, nos desencontram. Mas quando vão além de nós, além do “conhecido”, nos
apontam um rumo totalmente imprevisível e ao mesmo tempo tão delicioso de
fazer-se inteiro para poder amar.
Amar por inteiro.
Sem divisão. Sem métrica.
Sem fim. Mas sempre com um novo começo.
Com um encontro.
Primeiro.
Encontro.
M. KIKUTI