VIRTUDES
No um a um

A gente pode aprender um
pouco mais sobre as coisas, deixando-se abrir para os lampejos de sabedoria,
não com aquele afã momentâneo, mas com algo que é difícil: controlar a
mente. Na semana passada acabei lendo uma frase que suscitou um rompante de
transformação. Era algo assim: “Se não há ninguém gentil, seja você a pessoa
gentil”, lembrando muito daquela outra “seja a mudança
que você quer ver no mundo”.
Era sábado, tinha acordado cedo, animada para fazer tantas
coisas e ser a pessoa ainda mais gentil do planeta,
sem exigir que os outros tivessem que ser – embora devessem, é verdade! Mas a
vida prega peças, o destino pode ser traiçoeiro e a
mão de Deus chega para fazer valer qualquer desafio.
O primeiro embate foi numa loja. Cedo tem menos
gente, posso fazer tudo com calma, escolher, fazer contas, pensar no café
quentinho de mais tarde ou o que quer
que seja. Uhuu! E aí escolhi, pensei em tudo que pudesse, enquanto os poros
exalavam gentileza, paz, amor, namastês. Na hora
de pagar.... Eis que a moça, que não era a do caixa e foi alçada para atender a
única cliente – aquela coisa de só passar a porcaria do
cartão (acho que estou ficando irritada! rs) – começou a ensaiar um chilique,
bufou na maquininha e reclamou que não aguentava mais carregar
peso e um blábláblá que poderia ter me causado uma úlcera. Puxa, ninguém merece
gente mal educada e, de lambuja, mau humor! Mas,
numa tentativa de blindagem automática, pensei: “Não vou deixar que isto acabe
com meu dia”. E ela até me deu um “bom fim de semana” e
arriscou um sorrisinho de“desculpaê”.
Continuei feliz e saltitante. Até que teve a parte
2. No caminho para o meu cafezinho, um carrão,
destes de rico mesmo, apareceu na metade da outra pista, querendo cruzar a
avenida, sem dar sinal, abaixar o vidro filmado no último e fazer um okzinho que fosse. Que folgado! Não vou
deixar passar, não!! E não deixei mesmo. Alguém foi mais gentil que eu e o carrão ficou atrás de mim. Só que uns segundos depois, tive
que frear bruscamente porque um cachorrinho foi para o meio da pista. O motorista deve ter ficado muito fulo, pensei, afinal, não dei passagem
e agora vou freando do nada. Uns momentos depois, o carrão emparelhou. O motorista disse-me: “Ei, sua lanterna do freio, a
da esquerda, tá queimada. Você vai pegar estrada, não vai? Então é bom arrumar, ainda mais agora no feriadão”. Dei um sorriso, agradeci
gentilmente aquele senhor pelo aviso inesperado, peguei o meu queixo que tinha caído no pedal do freio e voltei ao foco de ser ainda mais gentil. Final: um para Deus e um para mim. E a gente aprende com o inesperado, com os freios da vida e nas ultrapassagens dos desafios.Porque nada é por acaso