VIRTUDES
Um
“outro” do outro
Costumamos dizer que é na hora
difícil que conhecemos o outro. Isto é bem verdade. Quando tudo está bem, as
pessoas têm um comportamento que não demanda suspeitas. Entretanto, quando o
mundo vira do avesso e algo sério se impõe, limitando as ações e sufocando as
emoções, a parte mais nefasta do ser humano vem à tona. E, à margem dos
sentimentos mais sublimes, surge um outro indivíduo que a gente não supunha
existir. Um outro alguém. Um “outro” do outro.
Juras de amor eterno
se despedaçam em palavras malditas. E aí vemos que há muitos homens dispostos a
se deitar, mas que não conseguem ficar de pé diante das menores turbulências.
Eram falsos companheiros. Talvez apenas companheiros de cama. E o cerco se
fecha. Máscaras caem.
Fácil é deitar. Difícil é ficar de pé e manter-se em
equilíbrio. Caminhar lado a lado, sem querer tomar a dianteira, para se sentir
superior. É preciso ter hombridade. Respeito. Assumir responsabilidades.
Solidarizei-me, numa espécie de decepção coletiva, com uma
amiga minha, ao saber que o namorado não queria assumir o filho que ela
esperava. Tampouco ele queria que a criança viesse ao mundo. Ah, era um
cara tão bom, o protótipo do “marido perfeito”!! É, mas pessoas perfeitas
não existem... Hello, vamos acordar!
Senti, de forma irmanada, a dor que a covardia alheia traz
consigo. A dor de saber que as palavras ditas, muitas vezes, são ecos do nada.
Não representam sentimentos verdadeiros. São frases feitas que muitos de nós
estamos acostumados a recitar com encanto falsificado. Com encanto das segundas
intenções. E se há sempre segundas intenções, como vamos poder constituir algo
mais palpável, um relacionamento de verdade, que clama por companheirismo no
dia a dia, acima da companhia em cima da cama?
Gente covarde cansa e destrói. Ter medo é uma coisa. Ser
covarde é outra. E a covardia, por menor que seja, realmente apequena qualquer
pessoa, por ela não ter a responsabilidade de assumir, sejam as grandes ou
pequenas falhas, as responsabilidades, os dividendos.
Uma atitude covarde,
aliás, desmorona tudo o que foi construído, porque fragiliza ainda mais o
castelo de areia. Aquele castelo que acreditávamos ser eterno.
Lamento a covardia
alheia. Lamento o machismo hostil. Lamento as relações que caem no ralo da
inconsequência, da conformidade com o mínimo, do descarte sem limite, como se
nunca houvesse nada que valesse a pena.
E lamento o “outro” do
outro que se converte em cotidiano, desmascarando os velhos golpistas de
corações, que estão entre nós, crescendo vertiginosamente com a falta de escrúpulo.
E a falta da verdade. E, o que é pior: a falta de amor.