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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

FÁBULAS - A NAVALHA

FÁBULAS


FABULAS


A NAVALHA

            Era uma vez uma navalha de excelente qualidade, que morava numa barbearia. Uma dia em que a loja estava vazia ela resolveu dar uma voltinha. Soltou-se do cabo e saiu para apreciar o lindo dia de primavera.
            Quando a navalha viu o reflexo do sol em si mesma, ficou surpresa e encantada. A lâmina de aço lançava uma luz tão brilhante que, subitamente, com excessivo orgulho, a navalha disse a si mesma:
            - E eu vou voltar para aquela loja de onde acabei de fugir? É claro que não! Os deuses não podem querer que uma beleza tal como a minha seja desonrada desta maneira. Seia loucura ficar aqui cortando as barbas ensaboadas daqueles camponeses, repetindo sem cessar a mesma tarefa mecânica! Será que minha beleza foi realmente feita para um trabalho desses? Certamente não! Vou esconder-me num local secreto e passar o resto da vida em paz.
            E em seguida foi procurar um esconderijo onde ninguém a visse.
            Passaram-se meses. Um dia a navalha teve vontade de respirar ar fresco. Saiu cautelosamente de seu refúgio e olhou para si mesma.
            Ai, que acontecera? A lâmina estava horrorosa, parecendo uma serra enferrujada, e não refletia mais a luz do sol.
            A navalha ficou muito arrependia pelo que havia feito, e lamentou amargamente a irreparável perda, dizendo:
            -Ih, como teria sido melhor se eu tivesse conservado em forma a minha linda lâmina, cortando barbas ensaboadas! Minha superfície teria permanecido brilhante e minha borda afiada! Agora aqui estou eu, toda corroída e coberta de uma terrível ferrugem! E não há nada a fazer!
            O triste fim da navalha é o mesmo que sucede às pessoas inteligentes que preferem ser preguiçosas a usar seus talentos. Essas pessoas, assim como a navalha, perdem o brilho e a parte afiada de seu intelecto, sendo logo corroídas pela ferrugem da ignorância.
Leonardo da Vinci,(Fábulas 1977)

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