FÁBULAS
FABULAS
A NAVALHA
Era uma vez uma navalha de
excelente qualidade, que morava numa barbearia. Uma dia em que a loja estava
vazia ela resolveu dar uma voltinha. Soltou-se do cabo e saiu para apreciar o
lindo dia de primavera.
Quando
a navalha viu o reflexo do sol em si mesma, ficou surpresa e encantada. A
lâmina de aço lançava uma luz tão brilhante que, subitamente, com excessivo
orgulho, a navalha disse a si mesma:
-
E eu vou voltar para aquela loja de onde acabei de fugir? É claro que não! Os
deuses não podem querer que uma beleza tal como a minha seja desonrada desta
maneira. Seia loucura ficar aqui cortando as barbas ensaboadas daqueles
camponeses, repetindo sem cessar a mesma tarefa mecânica! Será que minha beleza
foi realmente feita para um trabalho desses? Certamente não! Vou esconder-me
num local secreto e passar o resto da vida em paz.
E
em seguida foi procurar um esconderijo onde ninguém a visse.
Passaram-se
meses. Um dia a navalha teve vontade de respirar ar fresco. Saiu cautelosamente
de seu refúgio e olhou para si mesma.
Ai,
que acontecera? A lâmina estava horrorosa, parecendo uma serra enferrujada, e
não refletia mais a luz do sol.
A
navalha ficou muito arrependia pelo que havia feito, e lamentou amargamente a
irreparável perda, dizendo:
-Ih,
como teria sido melhor se eu tivesse conservado em forma a minha linda lâmina,
cortando barbas ensaboadas! Minha superfície teria permanecido brilhante e minha
borda afiada! Agora aqui estou eu, toda corroída e coberta de uma terrível
ferrugem! E não há nada a fazer!
O
triste fim da navalha é o mesmo que sucede às pessoas inteligentes que preferem
ser preguiçosas a usar seus talentos. Essas pessoas, assim como a navalha,
perdem o brilho e a parte afiada de seu intelecto, sendo logo corroídas pela
ferrugem da ignorância.
Leonardo da Vinci,(Fábulas 1977)
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