VIRTUDES
LEITURA
EU ME CONSOLO
Prospera.
Deixa o que ficou.
Solta. Acalma.
Acalenta. Se acalenta.
Eu falo comigo. Eu me consolo. Me escuto quando
ninguém tem tempo para isto. Mas eu tenho.
Ontem me doía. Uma dor que reverberava. Dor da alma,
que destroça, que segue como avalanche.
Eu perdia o ar, enquanto as lágrimas jorravam,
impiedosamente. Quando isto vai terminar, não é?
O dia acabou. E sempre parece que não foi o bastante.
Que havia muito por fazer e o muito que fazer ficou no limbo.
Eu me recupero. Me restabeleço. Me reconecto comigo
mesma.
O vapor do chá quente embaça meus óculos. E eu me
desanuvio. Peço que evaporem tantas coisas dentro de mim. Elas ocupam espaço
indevido... Está tudo muito cheio por aqui. Preciso de espaço.
No livro, a autora diz que é preciso vicejar e não
apenas sobreviver. E eu sobrevivi tantas vezes. Me quebrei. Me costurei. Me
remontei. Me encaixei. Fora dos padrões, lutando por pertencimento...
Vejo. Sinto a luz.
Eu mereço a luz. O perfume das flores. As minhas
lindas declarações.
As frases que eu criei e às vezes não reconheço.
Elas vicejam por aí.
E eu vivo nelas.
Busco novidades.
Busco conhecê-las em profundidade.
Saio do raso. E me aprofundo nas minhas angústias, mas
não me demoro.
Tenho que ir embora. E deixar pra trás.
Porque me vicejam as minhas flores. Estas internas.
Com seus perfumes.
E a exuberância que só elas têm.
MÔNICA KIKUT
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