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terça-feira, 22 de novembro de 2016

VIRTUDES - FUGUDIO

VIRTUDES
LEITURA

FUGIDIO

       A vida passa depressa. Ouço música. Ouço barulho. Ouço vozes, algumas que eu não gostaria de ouvir. Mas elas estão ali, quase grunhindo no dia a dia da vida de verdade.
A criança desconhecida sorri para mim. Acena. Despede-se de um encontro de olhares tão fugaz, como se a gente se conhecesse desde sempre. Foi como um presente no dia de caos.
Desde sempre eu acredito que ainda existam anjos. Eles também estão por aí. Andando como gente, sem serem tocados pela perversidade que muitos conhecem e que nos ronda. Eles não se sujam. Eles mantêm limpas as mãos e o pensamento. Eles ainda são deste mundo. Mundano.
A vida passa no toque do despertador. Desespera-me a hora perdida. Desespera-me a hora que se perdeu, sem que nada se fizesse. O tempo passa rápido. A rapidez proclama muitas coisas, sem que eu pudesse dar conta.
Tudo rápido, fugidio. Eu não sei mais onde estão meus minutos. Que música toca nos meus ouvidos? Desconheço-me um pouco mais quando olho para dentro. Me perco dentro de mim, num abismo quase amedrontador. Escalo as pedras do rim. Fico lá vendo tudo, como mera observadora. Sem medo. Sem julgamento.
Sem tempo de pensar o que não interessa. Sem tempo para o desinteresse. Sem tempo fugidio. Sem fugir. Do tempo.



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