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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Virtudes - (POR) MAIS PAPO E MENOS INTOLERÂNCIA

VIRTUDES

(Por) Mais papo e menos intolerância  

 

As publicações nas redes sociais têm muito a revelar. Mesmo as asneiras trazem consigo boa parte de seus autores. Nas coisas, aparentemente, inofensivas descobrimos também a intolerância a pequenos gestos, àquelas coisas corriqueiras do dia a dia.
         Eis que uma amiga publicou que adora que puxem papo com ela em lugares públicos e que tinha conhecido duas senhoras que lhe falaram tudo a respeito de dieta sem glúten. Finalizou, de forma poética, dizendo que “É assim que – de vez em quando – o amor se manifesta em São Paulo”. Gostei tanto daquele olhar de ternura, que fui lá e comentei. Mas, aí vi outros comentários que me brocharam e me deram a oportunidade de escrever sobre isto hoje.
        Algumas pessoas disseram que “ODEEEEIAM” (isto mesmo, com letra maiúscula) que puxem papo. Que evitam ao máximo qualquer destas investidas e quando acontece tratam logo de cortá-las. Houve quem dissesse que a melhor invenção da humanidade foi o fone de ouvido.

        Os comentários foram bem providenciais. Um dia antes eu tinha passado uma bela jornada com minha mãe num Pronto-Socorro público. O saguão estava até mais vazio do que os hospitais do convênio.
        Havia toda sorte de gente ali. 
        Enquanto as senhas eram chamadas, um jovenzinho se aproximou. Não lembro muito bem o que disse, mas logo que respondi, pulou uma cadeira e sentou-se ao meu lado. Estava sozinho e cheio de bolotas vermelhas no rosto e no braço. Era uma reação alérgica.
        Tinha 19 anos. Contou-me que trabalhava numa roseira, das 7h às 19h, e que ganhava R$ 400. Resolvi perguntar de seus pais. E aí ele me disse que seu genitor batia muito nele e em seus irmãos. Que havia chegado a proibi-los de ir à escola dizendo: “Prefiro um filho burro do que desviado”.  A mãe tinha se amasiado com outro e nem queria vê-lo. Disse-me que morava no sítio do patrão, não sei em quais condições. Em nenhum momento, aquele menino reclamou da vida, nem mesmo quando foi chamado para tomar uma injeção e sua apreensão era visível. Tomou a picada, saiu e se despediu.
        Olhei-o indo embora, contente. Pensei o quanto ele já havia sofrido até então. O quão dura era aquela vida de sol a sol para ganhar R$ 400. E o quanto a gente pode aprender com um papo puxado do nada. Um papo que não era furado. Mas, um papo que nos demove do individualismo que invade as metrópoles e deixa as pessoas cada vez mais apáticas aos seres humanos e aos sentimentos. Precisamos de trocas, de tolerância. Porque conhecer um pouco os outros mostra o quanto ainda precisamos conhecer um pouco de nós.

Mônica Kikuti



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