Virtudes - (POR) MAIS PAPO E MENOS INTOLERÂNCIA
VIRTUDES
(Por)
Mais papo e menos intolerância
As publicações nas redes
sociais têm muito a revelar. Mesmo as asneiras trazem consigo boa parte de seus
autores. Nas coisas, aparentemente, inofensivas descobrimos também a
intolerância a pequenos gestos, àquelas coisas corriqueiras do dia a dia.
Eis
que uma amiga publicou que adora que puxem papo com ela em lugares públicos e que tinha conhecido duas senhoras que lhe falaram
tudo a respeito de dieta sem glúten. Finalizou, de forma poética, dizendo que
“É assim que – de vez em quando – o amor se manifesta em São Paulo”. Gostei
tanto daquele olhar de ternura, que fui lá e comentei. Mas, aí vi outros
comentários que me brocharam e me deram a oportunidade de escrever sobre isto
hoje.
Algumas
pessoas disseram que “ODEEEEIAM” (isto mesmo, com letra maiúscula) que
puxem papo. Que evitam ao máximo qualquer destas investidas e quando acontece
tratam logo de cortá-las. Houve quem dissesse que a melhor invenção da
humanidade foi o fone de ouvido.
Os comentários
foram bem providenciais. Um dia antes eu tinha passado uma bela jornada com
minha mãe num Pronto-Socorro público. O saguão estava até mais vazio do que os
hospitais do convênio.
Havia
toda sorte de gente ali.
Enquanto
as senhas eram chamadas, um jovenzinho se aproximou. Não lembro muito bem o que
disse, mas logo que respondi, pulou uma cadeira e sentou-se ao meu lado. Estava
sozinho e cheio de bolotas vermelhas no rosto e no braço. Era uma reação
alérgica.
Tinha
19 anos. Contou-me que trabalhava numa roseira, das 7h às 19h, e que ganhava R$
400. Resolvi perguntar de seus pais. E aí ele me disse que seu genitor batia
muito nele e em seus irmãos. Que havia chegado a proibi-los de ir à escola
dizendo: “Prefiro um filho burro do que desviado”. A mãe tinha se
amasiado com outro e nem queria vê-lo. Disse-me que morava no sítio do patrão,
não sei em quais condições. Em nenhum momento, aquele menino reclamou da vida,
nem mesmo quando foi chamado para tomar uma injeção e sua apreensão era
visível. Tomou a picada, saiu e se despediu.
Olhei-o
indo embora, contente. Pensei o quanto ele já havia sofrido até então. O quão
dura era aquela vida de sol a sol para ganhar R$ 400. E o quanto a gente pode
aprender com um papo puxado do nada. Um papo que não era
furado. Mas, um papo que nos demove do individualismo que invade as metrópoles
e deixa as pessoas cada vez mais apáticas aos seres humanos e aos sentimentos.
Precisamos de trocas, de tolerância. Porque conhecer um pouco os outros mostra
o quanto ainda precisamos conhecer um pouco de nós.
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