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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

BAÚ LITERÁRIO/CRÔNICAS - CORRUPÇÃO

BAÚ  LITERÁRIO
CRÔNICAS
CORRUPÇÃO
A corrupção é o mal mais pernicioso da infracivilização. Na supercivilização de que são exemplos os territórios ao norte da Europa, ela é quase nula, porque os seus povos sabem corrigir as enfermidades da democracia e vão eliminando com o progresso as causas das doenças mentais comunitárias que atrasam a evolução da Humanidade. A legislação é muito mais aperfeiçoada, tendo erradicado progressivamente os motivos que levam o homem a ser lobo do homem, se não se lhe puser freio, como fazem por lá. Abençoados sejam! Por cá não é assim para desgraça nossa.
É uma Europa onde há de tudo, como numa farmácia. Há cidadãos que se impõem pela cidadania para que haja uma democracia saudável, e há outros laxistas, indiferentes, preguiçosos, medrosos, passivos, imprestáveis quando se fala em pedir-lhes que se motivem e movimentem para a luta política.
O que fazem os cidadãos para combater a corrupção na infracivilização? Nada. Mas na supercivilização fazem com que seja punida exemplarmente. Exemplarmente, na Islândia e na Finlândia não foram o povo quem pagou a crise, mas quem a causou. Abençoados povos!
A corrupção o que gera? O alheamento da vida política, a indiferença por toda a criminalidade que anda à solta mais ou menos protegida por leis cheias de buracos e alçapões, produzidos à medida do interesse de pessoas pouco honestas, espertas no ludíbrio, consentindo o abuso de privilegiados sem mérito, socorrendo-se algumas vezes de grupos de pressão junto das autoridades, em prejuízo de quem actua dentro da lei e da ética.
A corrupção gera compadrio, gera atraso económico, gera pobreza, gera apatia, insatisfação e revolta; gera um estilo de comportamento social que alastra por todos os escalões do funcionalismo público, desde as enfatuadas chefias ao mais simples subordinado que espreita uma oportunidade de sacar mais algum dinheirito do indígena precisado de qualquer documento ou qualquer autorização duma instituição, para esse compor satisfatoriamente a sua vidinha tristonha ou pouco airosa. E é fácil de ver o que está sujeito à corrupção: uma autorização para funcionamento duma actividade comercial ou industrial, a legalização dum benefício incomum, a compra e venda dum parecer favorável, a renovação duma licença, o perdão duma multa, duma coima, a compra duma ilegalidade numa empresa estatal ou mesmo semi-pública, o favorecimento num concurso público, a angariação dum novo funcionário, com recurso à portuguesíssima cunha, o célebre 'jeitinho' à portuguesa. O seu branqueamento insere-se na ainda mal estudada designação de 'porreirismo nacional' que vota isto tudo à lassidão e posterior esquecimento, como se fosse uma fatalidade inelutável. Contudo, se uma vez ou outra se requere Justiça, esta só enrola, e enrola até à prescrição do acto ilícito ou criminoso. Porque a legislação dá azo a que aconteça assim.
Quanto mais tempo demorar o fim da corrupção, mais próximo estará o fim da nossa autonomia nacional. Há alguém que desperte para esta evidência?


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