virtudes
Leitura
COMO
XÍCARA DE CAFÉ COM LEITE
Esperava a xícara de café com leite chegar fumegante à
mesa. Enquanto aguardava, pensava em
tantas coisas... naquelas indignações cotidianas que, vez por outra, parecem se
agigantar e tirar uma fatia de esperança da travessa de satisfações. Às vezes
se espera muito dos outros, se cria expectativas. Convenciona-se um alguém que
não existe. Ninguém faz o que a gente quer. E nem nós parecemos ser donos de
nós mesmos, quando precisamos ser...
A mente se apressava em concluir sentenças e a xícara continuava
intacta, com o vapor subindo como música, exalando canções que eu mal podia
sentir.
De repente, decidi experimentar o café com leite. Se houvesse
algum interlocutor, poderia ter questionado: "O que você entende por
'amor'?"
Poucos saberiam explicar com profundidade ou talvez com a
simplicidade que estas coisas requerem. E tudo se complica de novo sem a
convalescença necessária para dar à alma um suspiro de novidade.
O amor é como xícara de café com leite. Você não sabe se estará
o suficientemente quente, na dosagem certa. Você não sabe se ao encostar o
lábio na xícara, vai queimá-lo. Mas, você vai e experimenta. Seja o que Deus
quiser.... Sem medo de se queimar. Sem medo de não gostar. Sem medo de não ter
tanto açúcar ou estar doce demais: é preciso provar, dar uma chance para o
acaso, que mal teria nisto?
Pode parecer que todo café com leite é igual. Mas tem copo
americano, tem xícara, tem leite integral, desnatado, semi desnatado, leite de
soja. Tem café descafeinado, café forte, encorpado, café que não se sabe da
onde veio e até café que veio de coco de bicho e é mais caro que qualquer
outro. Tem que checar se gosta. Experimentar. E se não for o bastante, é
possível incrementar, usar a criatividade e botar creme de avelã no amor,
chocolate meio amargo, chantilly ou qualquer outra coisa que valha a pena.
Porque o amor não é pequeno, não vai ser frio, nem calculista. Não vai ser
medroso e egoísta. Não vai ser ingrato. Porque isto não combina com o amor. Só
com gente desalmada, talvez perdida e desprovida da vontade de amar.
Mais um café com leite, por favor.
Pra viagem.
Pra eternidade.
Mônica Kikuti
Nenhum comentário:
Postar um comentário