VIRTUDES
Filtrando
Houve um dia em que senti que faltava algo. Ânimo, talvez, e
uma saudade das coisas palpáveis. Do que foi e que agora não é.
Tive vontade de várias coisas. Queria
explodir.
Nascer de novo.
Sumir.
Retornar à superfície depois de
enfrentar o lodo das provações, com uma história nova. Reescrita. Ressurgida,
literalmente, das profundezas.
Queria contar até cem, com a
paciência de quem olha para o extrato do banco e acredita na esperança.
Com a paciência de quem espera a chuva na estiagem, diante
de um sol que desalenta e queima, como se fosse no deserto.
Queria ser água potável, filtrada em novas emoções.
Queria filtrar tudo e ficar só com o que resta, de um resto
que vale ouro.
Olhei no espelho das tentações, com os pecados à mostra.
Desnudei os pensamentos como quem tira o joio do trigo.
Retornei à vida, com submissão ao que
tinha nas mãos. Na mente. No coração.
Tive medo da reação egocêntrica, dos olhares inquisidores,
das respostas não dadas, das perguntas infames.
Tive medo de não saber o porquê de tantas coisas e porque
tantas coisas têm que ter por quê.
Filtrei tudo, passando uma navalha na
erva daninha.
Pode ser que um dia cresça de novo.
Mas, não do tamanho que estava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário