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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

VIRTUDES - TOME CUIDADO

VIRTUDES

Tome cuidado
Relacionamento é uma tônica que pode perder o gás. E aí fica uma coisa esquisita. Lembrei do início de todas as coisas: tudo é lindo! O sapato novo não pode ser pisado, riscado. Tem gente que olha a previsão do tempo antes de calçá-lo: “não quero sujar”. O carro novo tem de passar incólume pela poça d’água. Não se deve comer dentro, sobretudo salgadinhos. Não fume, não coma, não passe mal dentro de um carro novo, quanto mais o alheio. As pessoas têm zelo por estas coisas. Ninguém quer “macular” o estofado, sujar a lataria.
Mas, depois de um tempo, o negócio já não é tão novo, não importa se vai sujar. Se vão pisar no sapato novo. Se vai chover ou não. Se vai ter barro ou poça d’água. O zelo já não tem tanta importância assim. “Ah, já não é mais novo”.
As pessoas perdem o interesse em manter as coisas “imaculadas” como eram no começo. E tem gente que trata relacionamento afetivo como sapato novo. No começo, olha onde pisa, não extrapola. Manda polir, vez por outra. Evita riscar, só usa em ocasiões especiais. Mas, com o passar do tempo, aparecem outros modelos mais bonitos, novos, e parece que os antigos ficam cada vez menos interessantes ou até mesmo inutilizáveis, dependendo da situação.
Mas, é preciso tomar cuidado. Cuidado com as ciladas que, vez por outra, nos assolam, e também cuidar dos relacionamentos que nos edificam, que trazem um punhado de coisas boas: basta prestar atenção, revitalizar, colorir tudo de novo, vibrar, reverberar!
Tudo pode ser renovado todos os dias, mas é preciso tomar conta. É preciso tratar os sentidos como novidade, criar situações, surpresas boas, reinventar o dia a dia. O corriqueiro passa batido. E a vida, meu Deus, não pode passar batida, seja nos momentos de companhia ou não. Afinal, a vida é muito única para passar corriqueiramente, sem o sentido que alenta, acolhe e conforta.
Reinventar é fazer tudo sem tempo e espaço, sem preocupar-se com o porvir. É traçar, repintar, escrever, reescrever. É olhar como se fosse a primeira vez. É tocar, é ouvir, é descobrir que a magia está no colorido dos olhos e não na névoa que acinzenta.
É preciso polir os riscos de dentro do peito. Passar massa corrida, restaurar o que for preciso, sem o medo que afugenta, que perscruta o que não se conhece e, ao contrário, deveria, sim, ser bem vindo.
Tome cuidado com se fosse à estreia do sapato novo. Como se fosse ao primeiro encontro. No primeiro sorriso ou na primeira descoberta de si mesmo. Recomponha o seu solado e siga adiante, sem amarras e com o cuidado que tem de vir do fundo da alma. E tem de ter calma, para ir mais além. Com alguém ou não. Mas, caminhe. Tome seu rumo. Cuide bem de tudo o que tens.


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