VIRTUDES
Leitura
POSSO TE DAR UM ABRAÇO
E a gente compartilhou a dor de quem nem se conhece. A gente se uniu
como povo, como nação, como pessoas de credos diferentes e de singularidades,
sem julgamentos.
De tantas coisas emocionantes, uma em especial me comoveu mais. Trouxe à
tona aquela sabedoria que a gente busca, todos os dias, para lidar com os
infortúnios e com o imponderável. E veio de onde menos se espera. Veio da dona
Alaíde Padilha, mãe do goleiro Danilo, morto no voo da Chapecoense.
Em uma entrevista para a TV, ao vivo, ela perguntou ao repórter se ele
poderia dizer como o pessoal da imprensa se sentia ao ter perdido tantos amigos
e colegas de profissão. O repórter sinalizou que não podia dizer. E então ela
lhe ofereceu um abraço.
Aquela atitude foi mais que um abraço de uma mãe que perdeu um filho.
Foi o abraço de uma mulher, que mesmo com sua própria dor, enxergou também a
dor do outro, na mesma proporção. Foi o abraço do amor, do ser humano que a
gente espera ser um dia. Do ser evoluído espiritualmente, que passa de vítima
para herói. E a gente precisa de mais heróis e heroínas como a dona Alaíde.
Destas pessoas que encham nosso coração de esperança e abram os braços para a
vida, para que a gente possa lidar melhor com a morte.
Mônica Kikuti