"Alguma vez você já se sentiu rejeitado, condenado e
sem direito a se aproximar de Jesus? Alguma vez você já sentiu que apesar de
todos os bens materiais que conseguiu na vida, continua havendo uma sensação de
vazio lá dentro do seu coração que não o deixa ser feliz? Então sua vida tem
muito a ver com a história de Zaqueu.
Vamos ver o que podemos aprender com a história de Zaqueu:
"E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. E eis que havia ali um
varão chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico. E
procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de
pequena estatura. E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver;
porque havia de passar por ali. E, quando Jesus chegou àquele lugar, olhando
para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convêm
pousar em tua casa" (Lucas 19:1-5).
Zaqueu é apresentado na Bíblia como o símbolo do homem
pecador. A história diz que Zaqueu era rico. Homens ricos geralmente usam
roupas finas e caras. É interessante notar que às vezes, o pecador é
simbolizado na Bíblia por um homem pobre, mal vestido ou quase nu, como no caso
do filho pródigo, que voltou para casa vestindo trapos de imundícia e cheirando
a porcos. Como na história de Maria Madalena, que foi arrastada pelos cabelos,
seminua; ou como no caso do cego de nascença que ficava na porta do templo
pedindo esmolas.
Já outras vezes, o pecador é simbolizado por um homem rico e
bem vestido, como no caso de Naamã, o capitão do exército sírio, que por trás
das suas vestes finas e condecorações gloriosas, escondia a miséria de uma
lepra consumindo sua vida.
Este também era o caso de Zaqueu, que aparentemente tinha
tudo para ser feliz: usava roupas finas, seus filhos talvez estudassem em
escolas particulares de primeira classe, morava numa das mansões da cidade de
Jericó, mas não era feliz. Sentia-se rejeitado pela sociedade e atormentado
pela própria consciência.
Por que o pecador às vezes é simbolizado por um homem pobre
e quase nu, e outras por alguém rico e bem vestido? O que Deus está querendo
nos dizer?
Sabe, o que Ele está dizendo é que perante Seus olhos, todos
os seres humanos são pecadores, com apenas uma diferença: uns são flagrados em
seu erro, e seu pecado é descoberto e exposto para vergonha pública. Dedos
acusadores levantam-se muitas vezes para apontá-los e condená-los; estão nus.
Outros, perante os olhos divinos, são tão pecadores como os primeiros, mas a
lepra do pecado está oculta embaixo de uma vestimenta brilhante. Podem passar
pela vida sem que nunca ninguém descubra seu erro. Estão vestindo roupas finas,
mas infelizes, desprezados, vazios por dentro, como Zaqueu.
Esses dois grupos precisam de Jesus. Precisam entender que
aos olhos da igreja e da sociedade podem ser diferentes, mas são iguais aos
olhos de Deus.
Zaqueu procurava ver "quem era Jesus". Estava
certo. Vivia uma vida de pecado, usava para proveito próprio a posição que o
governo tinha lhe confiado, mas estava certo em sua busca. Cristianismo não é moralismo.
A primeira preocupação não deveria ser o que farei ou o que não farei e sim
quem é Jesus, a quem amarei e a quem servirei?
No caminho de Damasco, a primeira pergunta de São Paulo não
foi: "Que queres que eu faça?", mas sim, "Quem és, Senhor?"
Cristianismo nunca foi apenas o cumprimento dos quês da
igreja, mas acima de tudo fidelidade ao Quem, àquEle que nos achou, nos amou,
nos perdoou, e nos transformou.
Zaqueu estava certo. Procurava saber quem era Jesus, mas não
podia, por causa da "multidão". Qual era a grande dificuldade? Sua
pequena estatura? Seu peso? Sua raça? Sua posição social? O que fazia sentir-se
indigno? Sua pouca ou muita instrução? Não, isso nunca foi problema para chegar
a Jesus. Era a multidão que não lhe permitia aproximar-se do único capaz de
preencher-lhe o coração e transformar-lhe a vida.
Você já percebeu que durante o ministério de Cristo na
Terra, as multidões sempre atrapalharam a obra da redenção? Lembra do
paralítico que um dia precisava desesperadamente de Jesus para ser curado, mas
não podia chegar perto dEle por causa da multidão? Os amigos tiveram que fazer
um buraco no teto para que pudesse chegar ao Salvador.
Já leu a história da mulher com fluxo de sangue que teve que
abrir caminho em meio à multidão para poder tocar o manto de Cristo?
Consegue imaginar o cego que precisava de visão, clamando em
alta voz: "... Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!" (Lucas
18:38)
As multidões ordenaram-lhe guardar silêncio, mas ele
continuou gritando.
As multidões sempre se consideraram fiscais da salvação.
"Você não, porque é leproso." "Você sim, passe adiante."
"Você espere, está imundo; primeiro tome um banho, está cheirando mal,
para chegar perto de Jesus."
Certo dia a multidão queria impedir que as crianças se
aproximassem do Mestre. Então a voz doce de Jesus disse: "... Deixai vir
os meninos a mim, e não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus"
(Marcos 10:14).
Multidões! Deus tenha misericórdia das multidões que andam
com uma vara de medir a fé e dizer quem é digno e quem não é. Que Deus nos
ajude a mostrar ao mundo quem é Jesus. Que Deus nos ensine a tomar a mão dos
que se sentem derrotados, tristes, frustrados e rejeitados. Que nos mostre como
segurar o braço dos que pensam que nunca conseguirão. Que nos ajude a amá-los,
a compreendê-los, a levá-los a Jesus.
Zaqueu sentia-se indigno e pecador. Porém, a multidão o fez
sentir-se mais indigno e pecador ainda. Então o homem rico de Jericó pensou que
o melhor seria ficar de fora e limitar-se a olhar a Jesus de longe. Foi aí que
caiu no erro de muitos hoje, que pensam que cristianismo é seguir a Jesus de
longe.
Cristianismo, meu amigo, é um relacionamento diário e
permanente com Jesus. Não importa se a multidão dificulta sua aproximação dEle.
Faça como o paralítico, que entrou pelo teto, ou como a mulher com o fluxo de
sangue, que abriu espaço entre a multidão, ou então clame como o cego:
"Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!" Mas não fique em
cima da árvore. Não existem desculpas para ficar longe, na passividade de um
sicômoro ou na indiferença de quem vê Jesus passar. Cristianismo é compromisso
com Jesus, é envolvimento com Sua igreja, é a participação de Sua missão.
Cristianismo nunca foi contemplar Jesus comodamente de um sicômoro, enquanto se
ruminam mágoas e ressentimentos e se é consumido por lembranças tristes que a
multidão imprimiu dolorosamente em sua vida. Não, cristianismo é chegar perto
de Jesus, apesar da multidão.
Jesus atravessava a cidade seguido pela multidão, e lá
estava Zaqueu em cima de um sicômoro. Por que será que os homens estão sempre
plantando árvores para ficar em cima vendo Jesus passar? Zaqueu estava em cima
de um sicômoro. Mas podia ter sido uma árvore de preconceitos, temores ou
dúvidas. Quem sabe uma árvore de mágoas, ressentimentos ou simplesmente de
orgulho e incredulidade. Tanto faz.
De repente, Jesus parou e, em meio a tanta gente, olhou para
Zaqueu: "... Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convêm pousar em tua
casa" (Lucas 19:5).
Tenho tentado muitas vezes imaginar aquela cena. Imagino
Zaqueu olhando de um lado para outro, desconcertado, querendo que Jesus
estivesse falando com ele, mas com medo de receber uma resposta negativa ao
perguntar:
- É comigo, Senhor? Não está equivocado? Eu sou Zaqueu, um
ladrão, um homem injusto. É comigo que vai jantar esta noite?
Você já pensou, meu amigo, que naquele dia havia milhares de
pessoas junto a Jesus? Centenas de homens e mulheres que lutavam um contra o
outro por um lugar especial perto de Jesus? Cada um sentindo-se com mais
direito do que o outro, e de repente o Mestre olha para quem não esperava nada,
para quem se sentia indigno, insignificante, perdido entre os galhos de um
sicômoro, e o chama pelo nome: "Zaqueu"? Assim são as coisas com
Jesus. Para Ele não existem multidões, existem pessoas. Para Ele você não é
apenas um produto ou um número na estatística. Você é gente. Ele se preocupa
com você, com seus sentimentos, com seus sonhos, alegrias e tristezas. Ele
chora com sua dor e se alegra com seus sorrisos. Você é tão importante para Ele
que um dia Ele deixou tudo e veio a este mundo para buscá-lo. Ele sabe seu
nome, onde você mora, conhece suas ansiedades, sabe que você pode estar
tentando ser um homem resistente ao apelo divino, dizendo para si: "Eu só
quero vê-Lo de longe." Mas na realidade você é um homem solitário e
sincero que precisa dEle como todo ser humano.
- É comigo, Senhor? - você pergunta.
- Sim, é com você, Henrique, Isaura, Francisco, Aparecida, é
com você mesmo.
- Mas, Senhor! Eu fumo, bebo, tenho uma vida irregular, eu
sou indigno.
- Não importa, é com você. É por você que Eu vim, Eu o amo
não pelo que você faz ou deixa de fazer, mas pelo que você é: um ser humano
maravilhoso, apenas isso.
Nunca terei palavras para agradecer a Deus, porque um dia,
entre bilhões de seres humanos, o Senhor Jesus Se deteve no caminho da vida e
olhou para mim. Não me achou em cima de uma árvore. Achou-me atrás de um
púlpito, com uma régua na mão para medir o "cristianismo" da minha
igreja sem medo de apontar o pecado "pelo nome", pregando sobre o
amor de Deus sem jamais tê-lo experimentado, vestindo a imagem de um jovem
pastor muito preocupado em descobrir os "pecados ocultos", para levar
à igreja a reforma.
E o Senhor Jesus, com sua voz mansa disse: - Filho, desce
dessa árvore de apóstolo da reforma. Quero ficar com você, quero que Me conheça
de verdade e compreenda que as coisas não são assim como você pensa. Quero que
saiba que não é com o regulamento numa mão e a vara na outra que se reformam as
vidas.
A maneira como Jesus tratou a Zaqueu é a maneira como Ele
quer levar Sua igreja ao reavivamento e à reforma completa.
Veja que Jesus não olhou para Zaqueu e disse:
- Zaqueu, você é um ladrão. O que você faz é uma vergonha.
Estou disposto a lhe dar o privilégio de Me hospedar, mas antes quero que você
confesse publicamente que é ladrão, e que devolva o dinheiro que roubou dos
outros.
Eu imagino que era isso que a multidão esperava. Mas Jesus
não fez nada disso. Havia algo de maravilhoso com Ele. Os pecadores se sentiam
amados na Sua presença. Quer dizer que Ele apoiava a vida errada dos homens?
Não. Claro que não. A conduta deles é que mudava. Mas Ele nunca os fazia sentir
mais pecadores do que já eram. Não precisava agredi-los para inspirar neles o
desejo de mudança de vida.
E agora vejamos a atitude de Zaqueu. O que foi que ele fez?
Será que ele desceu do sicômoro e disse para Jesus:
- Obrigado, Senhor, por lembrar-Te de mim. Eu nunca poderei
agradecer-Te pelo fato de olhares para mim em meio a tanta gente. Agora fica um
pouco aqui. Deixa-me ir e arrumar a casa. As coisas não estão bem por lá.
Deixa-me fazer uma faxina completa e preparar uma refeição gostosa, então
voltarei e iremos juntos.
Foi isso que Zaqueu falou? Não. Por que não? Porque se
pudéssemos deixar Jesus aguardando para primeiro limpar a casa não
precisaríamos dEle.
Aqui está envolvido o maravilhoso princípio da justificação,
que é pela fé, e da santificação, que também é pela fé. É Ele que limpa a vida.
É Ele que coloca as coisas em ordem. É Ele que corrige, que conserta, que
purifica. Por favor, nunca cometamos a tolice de agradecer a Deus pelo perdão e
depois, sozinhos, tentemos colocar a vida em ordem.
O que foi que Zaqueu fez? Acho que ele colocou sua mão na
mão de Jesus. Era um homem solitário, rejeitado pela sociedade e que precisava
que alguém lhe restaurasse o senso de humanidade. Ali estava uma mão estendida
com amor, e ele agarrou-se a ela, apesar de ser um publicano, um ladrão, um
pecador.
A multidão não ficou contente com a atitude de Jesus.
"Ah!", pensaram no coração, "Ele parecia ser o Messias, mas em
lugar de condenar os pecadores, recebe-os, junta-Se a eles e não os
repreende".
Você já pensou que enquanto Jesus esteve na Terra nunca
condenou os derrotados, os marginais, os ladrões ou as prostitutas? As poucas
vezes que Ele condenou alguém, foram aqueles que achavam que estava tudo bem
com eles, aqueles que se consideravam os guardiões da fé, a norma de vida de
seus semelhantes.
Graças a Deus porque Jesus veio a este mundo buscar os
perdidos, os derrotados, os cansados de lutar sem nunca conseguir. Se você é um
deles, alegre-se e louve o nome do Senhor, porque foi por você que Ele veio.
Ele o está procurando, não importa onde você esteja, onde se
escondeu, ou para onde fugiu. Um dia a voz de Jesus o alcançará e o chamará
pelo seu nome, e talvez isso esteja acontecendo neste momento.
Você está tremendo em cima do sicômoro da vida, sente-se
rejeitado, triste, frustrado? Sente que nunca vai conseguir? Ouça a voz do
Mestre dizendo:
- Filho, Eu amo você. Desça daí, quero ficar com você, quero
entrar em sua vida e colocar cada coisa em seu lugar. Quero limpar o que tem
que ser limpo, consertar o que tem de ser consertado.
Olhe agora para Zaqueu. Nenhuma palavra. Apenas caminhavam
juntos, de mãos dadas, e aquele laço de amor penetrou na vida daquele
publicano. Enquanto caminhavam juntos, a vida de Jesus, Seu poder, Sua vitória,
transmitiu-se para o pobre homem, gerando nele o desejo de mudar de vida.
Depois Zaqueu levantou-se e disse: "... Senhor, eis que eu dou aos pobres
metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo
quadruplicado" (Lucas 19:8).
Este é o resultado inevitável de estar em Jesus e andar com
Ele. É impossível andar com Jesus e conviver com o pecado ao mesmo tempo. Essas
coisas não combinam.
Que dia extraordinário aquele! No início, Zaqueu não passava
de um homem solitário, frustrado e vazio, apesar de sua invejável posição
social e financeira. No fim do dia era um homem feliz, completo, transformado
em Cristo.
Zaqueu conhecia os dois lados da vida. O desespero e a
esperança, o vazio e a plenitude, a tristeza e a alegria, a condenação e o
perdão, a derrota e a vitória. Certamente Zaqueu podia dizer: "Jesus, Tu
és a Minha Vida".
Pr. Alejandro Bullón