Teologia
CONHECER JESUS É TUDO ii
"A pergunta do
jovem rico: "O que farei para herdar a vida eterna?", é a pergunta
que palpita no coração da humanidade. O homem foi criado para viver. O que ele
mais quer é viver. A vida pode ser a mais miserável das vidas, mas quando chega
a hora da morte o homem se agarra com desespero à vida.
A morte é um intruso na
experiência humana e por isso não é aceita. O maior desejo do homem é viver.
Para ter vida ele é capaz de fazer qualquer coisa, pagar qualquer preço,
realizar qualquer sacrifício. "O que farei para herdar a vida
eterna?", é o grito desesperado do coração humano.
"E a vida eterna é esta:
que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem
enviaste" (São João 17:3).
Você vê? O segredo da vida
eterna não consiste apenas no conhecimento de um corpo de doutrinas ou na
aceitação de uma determinada Igreja. O segredo é o conhecimento de uma pessoa:
a pessoa maravilhosa que é Jesus Cristo. O verdadeiro cristianismo é um
relacionamento de duas pessoas: o ser humano e Cristo. O que mais importa em
nossa experiência espiritual não é o que cremos mas em quem cremos.
A razão para acreditar que
o verdadeiro cristianismo é o relacionamento pessoal entre Cristo e o homem é
que a justiça e o pecado só podem existir entre pessoas. Uma estrela, um gato,
uma mesa ou uma pedra não podem pecar ou ser justos. Só as pessoas pecam. Por
isto o pecado, mais do que a violação da lei, é a interrupção do relacionamento
de amor entre Cristo e o ser humano.
Esta é a verdadeira
tragédia do pecado. Quando peco, estou ferindo meu Jesus, ferindo a mim mesmo e
trazendo separação entre ambos.
A maldade do pecado do
Éden está melhor revelada no fato de Adão se esconder de Deus e não
propriamente no comer do fruto proibido. O pior do pecado é isso: o ser humano
que outrora corria e se jogava nos braços do Pai amante, depois de pecar,
escondeu-se de medo e causou profundo sofrimento ao coração de Deus.
O Pai não estava triste
porque alguém comeu uma fruta, Ele estava sofrendo por causa da separação.
Isto nos leva à conclusão
de que a salvação e a vida eterna nada mais são do que uma reconciliação ou um
novo relacionamento pessoal com o Senhor da salvação. Somos salvos, quando
cremos em Jesus, quando amamos a pessoa de Jesus, não apenas Seu nome, nem Suas
doutrinas, nem apenas Sua Igreja.
Não podemos, porém, amar uma
pessoa sem conhecê-la, por isso o inimigo fará todo o possível para nos
distanciar mais e mais de Deus, ou então para aproximar-nos dEle com uma idéia
errada do Pai. O inimigo não quer que conheçamos Jesus ou, na pior das
hipóteses, quer que O conheçamos com a imagem de um Deus tirano, ditador,
preocupado mais com Suas normas do que com Seus filhos.
Com essa imagem de Deus que
não inspira amor, inspira medo; não inspira desejo de servi-Lo, gera a
obrigação de servi-Lo, o inimigo procura nos levar a uma religião triste, a um
cristianismo formal. É o medo do castigo que nos leva a obedecer. O inimigo
fica feliz com isso. Conseguiu o que queria. Se não conseguiu levar-nos para
longe do Pai, ao menos trouxe-nos para perto dEle pelos motivos errados.
Conhecer Jesus é Tudo, sabe
por quê? Porque ao conhecê-Lo como na realidade Ele é, ao conhecer o que Ele
fez por nós na Cruz do Calvário, ao saber o quanto Ele nos amou e nos ama
apesar de nossas atitudes ou de nossa rebeldia, não teremos outro caminho senão
apaixonar-nos por Ele, amá-Lo com todas as forças de nosso ser. E porque O
amamos, desejaremos ser como Ele é, viver como Ele quer. Vamos querer ver
sempre um sorriso de felicidade em Seu rosto e conseqüentemente, deixaremos de
fazer tudo aquilo que O deixa triste e faremos tudo aquilo que O deixa feliz.
Conhecer Jesus é tudo
porque a salvação não provêm do esforço humano, ela é um presente de Deus e
esse presente é a pessoa de Jesus Cristo. A salvação não vem de Jesus Cristo. A
salvação é Jesus Cristo. Aceitar a salvação é aceitar a Jesus Cristo. Conhecer
Jesus é ter a salvação e, portanto, ter a vida eterna.
Quando São João fala de
"Conhecer Jesus" não está falando apenas de um conhecimento teórico. João
vivia numa época em que predominava o pensamento helenístico. Os gregos
endeusavam o conhecimento teórico. Para um grego dizer que conhecia uma flor,
ele ia à biblioteca, estudava tudo o que as enciclopédias e livros falavam
sobre a flor, e dizia: "Conheço a flor". João não. Para ele dizer que
conhecia a flor, além de ler os livros, ele ia ao campo, tocava a flor, sentia
a flor, cheirava a flor, acariciava-a e então dizia: "Conheço a
flor".
Conhecer, para os gregos
que viviam no tempo de João, era acumular conhecimento teórico. Conhecer, para
o discípulo amado, era uma experiência de vida. O conhecimento teórico pode
ajudar enquanto as coisas andam bem. O conhecimento experimental é, por sua
vez, a única solução para os momentos de crise.
A maioria dos discípulos
limitava-se a ouvir as palavras de Jesus. João ia mais além: ficava perto do
Mestre e reclinava a cabeça no coração de Jesus. A diferença revelou-se na
crise. Quando os judeus prenderam Jesus e O levaram ao Calvário, todo mundo O
abandonou. O único que ficou perto foi aquele que não se contentou em ouvir
Jesus, nem apenas saber acerca dEle, e sim o que procurou um conhecimento
experimental.
"E a vida eterna é
esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a
quem enviaste." (São João 17:3)
Simples como a flor, como
uma criança, como um sorriso, como todas as coisas de Deus. Nós, os seres
humanos é que às vezes complicamos as coisas, as tornamos difíceis e
roubamo-lhes a beleza natural.
Pessoalmente, levei anos para entender
algo tão simples. A minha experiência cristã quando jovem foi uma experiência
asfixiante, mas Deus me ajudou a descobrir Jesus como uma pessoa e não
simplesmente como uma teoria.
Corria o ano de 1972. Eu
era missionário entre os índios da tribo Campa, que moram nas margens do rio
Perené, na Amazônia de meu país. Naquela manhã de sexta-feira, saí de casa com
o objetivo de visitar uma aldeia localizada a duas horas de caminho através da
floresta. Não soube precisar em que momento perdi a trilha. Esforcei-me para
achá-la, mas toda tentativa acabava me desorientando mais. Os minutos e as
horas foram passando e então as nuvens escuras apareceram anunciando a
tormenta.
A chuva chegou junto com a
noite, implacável. Assentei-me no chão, debaixo de uma árvore, e vi passar o
tempo, rogando a Deus que me ajudasse a sair daquela situação difícil. Não sei
quanto tempo fiquei desse jeito, mas quando notei que a chuva tinha diminuído,
reiniciei a caminhada em meio à escuridão e o barro. Estava completamente
molhado, cansado, faminto e a esta altura, quase desesperado. "Você não
pode parar, vai ter que continuar". Repetia. "Você vai conseguir.
Daqui a pouco você achará a aldeia, não pode é ficar aqui parado."
Mas algo me dizia que tudo
era inútil, que o melhor seria ficar ali e esperar a luz do novo dia. Ficar
ali? Molhado como estava? Sozinho? E se alguma fera aparecesse? Era a primeira
vez que me acontecia uma coisa assim. Eu não conhecia a selva. Tinha chegado da
capital havia poucos meses. Senti que o medo estava tomando conta de mim e
corri. Corri como um louco, como se alguém estivesse me perseguindo. A chuva
molhava meu rosto, dificultando a visão, se é que se podia enxergar alguma
coisa naquela escuridão.
Foi aí que escorreguei e caí
floresta abaixo, cinco ou seis metros talvez. Estava cheio de lama. Não existia
mais trilha. Só a escuridão e a música, que naquele momento para mim parecia
infernal, que a chuva produzia ao entrar em contato com as folhas e o chão.
Eu não queria aceitar, mas
estava perdido, completamente perdido. Tentei sair do buraco em que me achava.
Segurei-me numa planta, mas esta desprendeu-se e tornei a cair na lama.
Agarrei-me a um pequeno galho. Uma dor violenta obrigou-me a soltá-lo e acabei
novamente na lama, com a mão cheia de espinhos. Tudo o que fazia era inútil,
meus pés escorregavam na terra molhada e acabava sempre lá embaixo, no buraco e
na lama.
Fiquei algum tempo
meditando em silêncio e descobri a tragédia de minha vida. Olhando para trás vi
que minha vida na igreja tinha sido como aquela noite. A vida toda tentando
sair do buraco, a vida toda tentando viver à altura dos elevados princípios de
minha igreja, cumprir os mandamentos e regulamentos e acabando sempre na mesma
situação. Eu estava perdido em meio à igreja, com todas as suas doutrinas na
cabeça. Cumprindo, de certo modo, todas as suas normas, eu estava perdido. E o
pior de tudo: fazia dois anos que eu era um pastor.
Como num filme, minha vida
toda começou a desfilar ante meus olhos. No pequeno local onde congregava
quando era criança, havia um lugar especial em cima do púlpito para os Dez
Mandamentos num quadro dourado. Era dever de todos saber de cor os mandamentos
e guardá-los fielmente.
Desde pequeno aprendi as
normas da igreja. Não pode isto, não pode aquilo. Fazer isto está errado, fazer
aquilo outro também está errado.
- Ó Deus, - perguntava-me muitas vezes -
como é possível viver assim?
E
em meu coração de adolescente sentia um estranho conflito. Sabia tudo que devia
e não devia fazer, mas não conseguia viver à altura dessas normas e isto me
tornava infeliz. Só Deus sabe quantas vezes deitei-me na cama, sozinho, e
ruminei meu desespero.
Atormentava-me
a idéia de um Deus sempre zangado, sempre pronto a me castigar, esperando
sempre de mim o cumprimento de todas as Suas normas.
Formei-me
na Faculdade de Teologia aos 21 anos. Mas em lugar de ser feliz, sentia-me mais
angustiado e perguntava: "Deus! O que acontece comigo? Por que esta
sensação de que sempre estou errado, de que nada está certo?".
A
resposta não vinha, mas o conflito aumentava. "Agora você é um
pastor" - repetia para mim - "você tem que ser um exemplo para a
Igreja. Se alguém tem que cumprir todas as normas ao pé da letra é você".
Como
foram tristes os primeiros anos de meu ministério! Não que eu fosse um grande
pecador. Meus pecados poderiam ser chamados de "suportáveis". Eram
"pequenos erros". Mas eu sabia que para Deus não havia classificação
de pecados, e isso me angustiava. O pior de tudo era que eu conhecia a doutrina
de Cristo. Sabia de cor todas as doutrinas da Igreja. Sabia os mandamentos de
cor, centenas de versos de cor. Pregava de Jesus e voltava para casa triste.
Sempre com aquela sensação de que alguma coisa estava errada. Deitava e
levantava cada dia com as normas e os princípios na cabeça. Andava sempre
pensando no que devia ou não fazer. A angústia não desaparecia. Deus foi muito
bom comigo porque, apesar de tudo, deu-me muitas pessoas para Jesus nesses dois
primeiros anos de ministério.
Aquela noite, lá no interior da
mata, molhado e cheio de lama, entendi, pela primeira vez, o que acontecia
comigo. Eu estava perdido em meio duma amazônia de doutrinas, normas, leis e
teologias. Perdido em meio à Igreja!
Olhei para um lado e para
o outro. Onde estava o Jesus do qual pregava? Estava lá, distante, atrás das
nuvens. Na minha cabeça só havia teorias, normas e doutrinas. Tive vontade de
chorar como uma criança, porque me sentia sozinho. Eu conhecia um nome, não uma
pessoa, eu amava uma Igreja e não o maravilhoso Senhor dessa Igreja, eu tinha
comigo normas e regulamentos, mas não tinha Jesus e naquela hora não precisava
de normas, não precisava de doutrinas, nem de uma Igreja, precisava de uma
pessoa.
Chorei aquela noite a
tragédia de ter vivido sempre só, tentando sair do buraco e achar a trilha
certa, mas acabando sempre na mesma situação, na lama e na desgraça.
A chuva estava passando
"Um milagre" - disse em meu coração - "preciso de um milagre. Só
um milagre poderá tirar-me daqui". E comecei a gritar com todas as forças
de meu ser. Na selva, quando alguém está perdido tem que gritar. Se alguém
ouvir seu grito, gritará por sua vez e assim ambos poderão se ajudar.
De repente, pareceu-me ouvir
uma voz distante. Gritei. Minha voz perdeu-se na imensidão da floresta e o
vento me trouxe a resposta. Alguém estava gritando ao longe. Alguém estava lá.
Continuei gritando e o grito foi se aproximando. Cada vez mais e mais. Pude
perceber os passos e depois ver a silhueta de alguém. Ao chegar perto de mim,
vi seu rosto. Era um índio. Estendeu-me o braço, segurou minha mão e puxou-me.
Era uma mão forte, cheia de calos. Puxou-me com firmeza até chegar lá em cima:
- Quem é você? - perguntei.
Não respondeu.
-
Como você se chama?
Silêncio.
-
De onde você veio?
A mesma resposta.
Segurou-me o braço e começou a caminhar. Seus
passos eram firmes. Em momento nenhum respondeu minhas perguntas.
Andamos
em silêncio algum tempo até chegarmos a certo ponto. Lá embaixo havia luz. Era
o lugar que eu estava procurando. Estava a salvo.
Na
manhã seguinte desci até uma pequena cachoeira para me lavar. Ajoelhei-me
ouvindo a música da água ao cair e o canto dos pássaros. Pela primeira vez
senti que não estava mais sozinho. Então orei: "Senhor Jesus, agora sei
que não és uma doutrina, és uma pessoa maravilhosa. Como fui capaz de andar
sozinho a vida toda? Ó Senhor, agora entendo porque não era feliz. Estava
faltando o Senhor na minha vida. Quero amar-Te Senhor. Quero segurar sempre Teu
braço poderoso. Sei que sem Ti estou perdido. Quero daqui para frente estar
preocupado só em segurar Tua mão de amigo, quero sentir-Te ao meu lado. Saber
que não estás somente lá nos Céus, mas aqui, comigo. Hoje entendo o que estava
faltando. Estava faltando Tu, Jesus querido".
Desde
aquele dia comecei a encarar a vida cristã não como uma pesada carga de normas,
proibições e regulamentos, mas como a maravilhosa experiência de caminhar lado
a lado com Jesus. As doutrinas começaram a ter vida para mim. Tudo o que antes
era opaco e sem cor começou a adquirir o maravilhoso brilho da felicidade.
Aquele índio me ensinou uma lição que precisava aprender. Talvez a maior lição
de minha vida. Sozinho estaria sempre perdido, sempre angustiado, sempre
infeliz. Precisava da ajuda de um amigo que conhecesse o caminho melhor do que
eu. E achei esse amigo em Jesus.
Poderia você abrir o coração a
Jesus neste momento? Você não está só. Talvez ao longo dos anos essa sensação
de carregar um vazio interior o acompanhou, mesmo você fazendo parte de uma
igreja cristã. Por quê? Simplesmente porque Jesus nunca passou de ser um nome
ou uma doutrina bonita. Mas neste momento Ele quer Se tornar para você uma
pessoa real. Ele o convida a viver a mais linda experiência de amor. Está você
disposto a aceitá-Lo? Lembre-se: Conhecer Jesus é tudo.
ORAÇÃO
Pai querido, o segredo da
vida eterna está em conhecer-Te. Por isso, estou aqui, suplicando: vem cá,
Senhor, fica comigo. Participa do meu dia-a-dia e dá sentido a minha vida. Em
nome de Jesus. Amém.
PR.
ALEJANDRO BULLÓN