Virtudes
Leitura
NÃONICA
Quase me descabelei quando as coisas começaram a dar
errado ao meu redor.
As
portas não abriam. Eram chaves que não encaixavam. Eram maçanetas enferrujadas.
Eram
"nãos" seguidos de "nãos". Eles me eram tão familiares, que
chegou um momento no qual não me surpreendia com eles.
Hoje,
com a mente mais calma, avalio que estes "nãos", embora negativos,
tiveram um peso positivo nesta jornada.
Alguma
coisa dizia lá dentro: "Não desista! Algo melhor está por vir!"
Eu
me desconectei.
Meu
celular quebrou. Não tinha aplicativo para me chamarem para conversar ou
mandarem aquelas baboseiras de sempre. E, assim, eu não soube de muita coisa,
que era melhor mesmo não saber.
Não
havia nenhum ruído de notificação para me informar novos e-mails. E foi bom.
Neste período de "morte virtual", recebi um e-mail me chamando para
uma entrevista. Meia hora depois, um outro escrito "errata" em letras
garrafais no assunto. Ah, era um erro do sistema ! Isto acontece quando as
coisas são chuva de azar gigante. Chuva de "azarnizo". Mas sorte que
eu havia me desconectado. Meu celular estava lá, mortinho da silva. Não tinha
internet na palma da mão e não desperdicei meia hora criando expectativas. Não
tive afã nenhum. Ri do erro lá da empresa. Ri da familiaridade do
"não". Eu já poderia trocar meu nome para "Nãonica", não é?
Ou "Moninão"? hahaha. Gostei mais do primeiro... Ah, mas dá muito
trabalho mudar todos os documentos! Não vale à pena. Além do mais, eu gosto
muito do meu nome. Mesmo. Acho um charme o meu acento circunflexo no
"o". Gosto de ver as três três sílabas: Mô-ni-ca. Gosto do som. Gosto
de ser a Mônica mesmo. Unicamente.
E
sendo eu mesma, embora as coisas não caminhem como eu gostaria, a vida segue.
Caminhando. Afinal, eu não parei até agora. Não pretendo parar. Lógico que
existem algumas pausas. A gente precisa descansar. Enxergar o que está diante
dos olhos. Tirar aquela nebulosidade que, vez por outra, aparece no nosso céu.
Meu
firmamento, aliás, está mais bonito. Olho para as estrelas e imagino um
"sim" desenhando-se lá em cima. Porque é lá de cima que as coisas
boas chegam aqui em baixo. E é de baixo que a gente cresce. Que a gente chega
mais longe. Mesmo que não seja tão rápido. Mesmo diante de algumas
chacoalhadas. A obra segue sendo edificada. E eu sigo mais edificante.
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