VIRTUDES
Leitura:
NÃO DÁ PARA PERDER
Cada
momento da nossa vida, bom ou ruim, nos traz uma reflexão com o poder de
transformar emoções e ações dali em diante.
Meu
pai morreu no dia 11. A morte é encarada como perda. Então, perdi meu pai? Pela
primeira vez pensei neste conceito de “perder” alguém. E passei a reavaliar:
nunca se perde ninguém.
Não
dá para perder o que vivemos juntos. Isto é eterno! Está aqui, na memória, para
sempre. Está dentro da gente em forma de emoção, que umedece os olhos vez por
outra, mesmo que a morte nos separe no âmbito das dimensões e nos furte a
convivência.
Não
dá para perder e, tampouco, esquecer o tempero da comida, o som da gargalhada,
a voz, o vocabulário, o cheiro da roupa, o desenho da letra. Não dá para perder
as broncas, os elogios, as manias. Tudo está ali, condensado, e rememorado em
cada canto das nossas histórias, mesmo na ausência física.
Não dá para perder o pai ou qualquer pessoa que a
gente ame, goste ou admire. Não dá para perder, porque estas pessoas são
encontradas dentro da gente. E se estão dentro da gente não podem estar
perdidas por aí: elas têm paradeiro. Têm direção. Têm lenço e documento. A
gente as possui em forma de lembranças boas, emoções que nos fazem atravessar o
tempo na velocidade de um triz. Mas com a intensidade de uma vida toda.
Que
a gente possa ganhar com as lembranças, sem perder tempo com a melancolia. Que
a gente possa limitar a dor, tranquilizar a saudade e ganhar mais sorrisos na
alma. E no rosto também. Porque só vale à pena mesmo perder o que não tem
valor.
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