VIRTUDES
Leitura
UM CONFORTO
Era um início
de tarde de sábado. Ainda havia poucos clientes num supermercado atacadista,
quando começou uma movimentação. Eu estava já na fila do caixa quando vi uma
mulher japonesa, nervosa, procurando um funcionário da loja. Ela havia pedido
ajuda e solicitado para que não permitissem a saída de nenhum automóvel do
estabelecimento, pois tinha “perdido” a filha dentro do comércio.
Passaram-se talvez dois minutos e uma senhora, que
parecia ser a avó da criança, apareceu avisando que tinha encontrado a menina,
na seção de bebidas. A garota era uma fofura. Mesticinha, de uns quatro anos,
no máximo, estava encostada no corpo da avó, com uma carinha apreensiva,
esperando as cenas seguintes.
A mãe já
estava aos prantos. Confesso que aquela angústia dos dois minutos também me
deixou nervosa. Já estava quase tendo um treco, porque me imaginei no lugar
daquela mulher.
E quando ela
viu a filha foi algo muito mágico. Pegou a menina nos braços e a abraçou
docemente. As lágrimas molhavam o cabelo da criança. Era carinho ao invés de
braveza. Era conforto ao invés de repulsa. Era sossego e alívio. Era amor.
Quão amorosos
somos todos os dias com quem nos importa? Como temos reagido a situações de
estresse, por menores que sejam? Será que vale a pena brigar por coisas tão
mínimas? O perdão tem mais espaço nas nossas vidas do que a raiva e a vingança?
Aprendamos com a mãe amorosa, que reencontrou a filha
perdida (entretida com aquele montão de coisas gostosas), e não disse uma
palavra sequer. Só agiu com ternura. Agiu com o coração aberto de verdade. Sem
julgamentos. A resposta, muitas vezes, está em ser mais positivo do que
negativo. Em ser mais amor. Só mais amor.