VIRTUDES
APLAQUE A DOR
Encontrei
uma amiga e fazia tempo que não conversávamos. É sempre reconfortante encontrar
quem a gente gosta e poder aproveitar o tempo ali, sem deixar esfriar o café
por causa da maldita selfie ou de alguém insistindo no WhatsApp. Como minha
nobre leitora, ela me sugeriu um tema: a dor.
Lembrei-me
daquela frase “doa a quem doer”. E às vezes a gente age mesmo levando este
conceito como lema, sem se importar com a dor alheia, só porque a nossa sempre
parece ser maior. E, por vezes, somos muito egoístas! De fato, a dor, embora
todos experimentem sofrimentos, vai “doer” dentro da gente de forma diferente
mesmo havendo uma situação semelhante com a do outro. Mas, todos estão sujeitos
a sofrer e a sentir dor, seja por conta de unha encravada, do dente latejando,
do dedinho batendo na quina do móvel, de alguém que se foi, de algo que acabou
e que a gente não queria que tivesse acabado. E aí pode surgir a dor de
cotovelo que não tem analgésico que resolva: é preciso aceitar. Aceitar é uma
forma de redenção, de se dar uma outra e, portanto, nova oportunidade.
Mas a
dor também pode ser um alerta de que algo vai mal. E como disse a minha amiga,
talvez, neste caso, ela seja essencial para nos trazer novos aprendizados, para
mostrar que é preciso agir, mudar algo no nosso comportamento, que pode ser,
inclusive, a própria forma de enxergar a vida. Muita gente, aliás, passa a
valorizar muito mais a existência depois de ter enfrentado doenças severas e
todo um conjunto de tribulações. E aí a dor floresce em uma oportunidade de
renascimento, trazendo o bálsamo que tanto se buscava.
Há
quem viva, porém, dores inesgotáveis, fabricadas dentro de si, talvez por ter
se acostumado com elas, por não saber mais como a vida é sem lágrimas, sem
sofrimento, lamentos. Em algumas pessoas, esta dor de dentro, invisível e tão
presente, embrutece, abre feridas na alma, cunha a tristeza dentro do peito
como essência sem perfume. E o mundo perde o brilho para tornar-se fosco.
Aplaque
a dor fabricada. Faça o mundo brilhar de novo. Sinta as cores de um novo
amanhecer dentro de si. Remova as ferrugens deixadas pelas dores que não
existem mais, de sofrimentos que já se passaram, mas que parecem ser carregados
por todos os cantos, como fardos cheios de ressentimento e tormento. Isto é
peso morto. Liberte-se.
Emplaque
as alegrias e toda a exultação que elas trazem. Tenha fé. Não desacredite.
Enxergue que enquanto se está vivo há vida. E se há vida é preciso viver. E bem
viver.
Mônica Kikuti